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Relatório da ONU alerta para guerra civil na Síria

Segundo comissão liderada por Paulo Sérgio Pinheiro, há mais de cem milícias espalhadas pelo país, revanchismo sectário e grupos armados estrangeiros

Por Jamil Chade e de O Estado de S. Paulo
Atualização:

GENEBRA - Mais de cem milícias espalhadas pelo país, armamento vindo do exterior, revanchismo sectário, ofensivas militares de grande porte, cristãos alvos de ataques, presença de grupos armados estrangeiros e uma "escalada dramática" da violência. Esse é o resultado da investigação liderada pelo brasileiro Paulo Sérgio Pinheiro a pedido da ONU sobre a crise na Síria. Veja também:linkGoverno sírio abandona reunião da ONU para apresentação de relatóriolink'Não há plano que aguente sem apoio de potências', diz Paulo Sérgio Pinheirodocumento RELATÓRIO: Veja informe completo sobre a Síria, de Paulo Sérgio PinheiroPela primeira vez, um documento público da entidade internacional constata que partes do país já estariam à beira de um "conflito armado não internacional" – ou seja, uma guerra civil –, em que grupos rebeldes já desafiam de fato a autoridade do regime do ditador Bashar Assad.Pinheiro apresenta hoje às Nações Unidas, em Genebra, o resultado de seu trabalho, considerado até agora o mais completo levantamento dos crimes cometidos na Síria. A investigação detalha não apenas as violações cometidas pelo governo, mas também os abusos da oposição. O cenário esboçado com base em 383 entrevistas e informações de inteligência é o de que a Síria é hoje uma terra sem lei, onde ninguém é poupado."A situação mudou dramaticamente nos últimos três meses, diante do fato de que as hostilidades dos grupos antigoverno ganham a cada dia contornos cada vez mais claros de uma insurreição", diz o documento que será entregue hoje à ONU.Pinheiro recebeu o mandato para reconstituir o massacre de Hula, que deixou 108 mortos em 25 de maio. Mas, ao investigar a situação do país, o brasileiro e sua comissão chegaram à conclusão de que a Síria está à beira uma guerra civil. Grupos rebeldes estão mais armados e organizados e a escalada do conflito fez surgir dezenas de milícias.Pinheiro alerta no documento que essa violência ganha cada vez mais contornos de um conflito sectário. Se antes as vítimas eram escolhidas por serem anti ou pró-governo, a comissão aponta para um número cada vez maior de vítimas que foram alvo por sua filiação religiosa. Pinheiro suspeita que o governo sírio seja o principal autor de grande parte das mortes do massacre de Hula. Mas evita dar nome aos responsáveis e não descarta a possibilidade de que a oposição possa estar envolvida.‘Estado de guerra’. Ontem, Assad disse em reunião de seu gabinete que a Síria encontra-se em estado de guerra. Ao longo do dia, tropas dissidentes enfrentaram soldados leais ao regime nos subúrbios de Damasco. Segundo opositores, foram os choques mais violentos nos arredores da capital desde o começo dos protestos, há 16 meses.De acordo com o Observatório Sírio dos Direitos Humanos, 115 pessoas morreram ontem no país. A ONU estima que mais de 10 mil morreram no conflito. 

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