Relatório de acadêmicos e ativistas pede que EUA se afastem do governo Bolsonaro

Documento de ONGs e professores universitários americanos sugere a suspensão de acordos firmados com o Brasil durante a presidência de Bolsonaro

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Por Beatriz Bulla e Correspondente 
Atualização:

WASHINGTON - O governo Biden recebeu nesta semana um documento de 31 páginas assinado por ONGs internacionais e professores de universidades americanas que pedem a suspensão de acordos com o Brasil durante a presidência de Jair Bolsonaro. No texto, ativistas pedem, entre outras medidas, o congelamento de negociações de comércio bilateral com o Brasil e retirada do apoio americano à adesão do Brasil como membro da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) - concedido durante o governo Trump. 

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O texto, ao qual o Estadão teve acesso, foi divulgado inicialmente pela BBC Brasil. No documento, ativistas afirmam que o relacionamento "especialmente próximo" entre Trump e Bolsonaro tem sido "um fator de legitimação" do presidente brasileiro e de "suas tendências autoritárias". "A aliança Trump-Bolsonaro tem levado muitos brasileiros que apoiam valores democráticos e o Estado de Direito a questionar se Washington é, de fato, um parceiro confiável na luta pela proteção e expansão da democracia", dizem os autores do documento.

Diante da preocupação externada por Biden durante a campanha com a preservação da Amazônia, a carta das organizações sugere que a política externa americana considere a proteção também de outros ecossistemas como Cerrado, Pantanal e a Mata Atlântica. Durante a campanha eleitoral, Biden chegou a afirmar que "reuniria o mundo" para garantir um plano de preservação da Amazônia. A floresta foi mencionada no plano climático divulgado pelo presidente americano na semana passada. 

Presidente Jair Bolsonaro é recebido pelo então presidente dos EUA, Donald Trump, em março de 2019 Foto: Kevin Lamarque/ Reuters

Durante o governo Trump, Bolsonaro contou com um aliado na Casa Branca e declarou apoio à reeleição do republicano. O presidente do Brasil foi o último dos países do G-20 a reconhecer a vitória de Biden, nas eleições de novembro, e não telefonou para parabenizá-lo pela posse presidencial desde 20 de janeiro. Ativistas apostam que a nova Casa Branca irá pressionar o governo Bolsonaro a assumir compromissos de preservação ambiental.

Segundo envolvidos na elaboração do dossiê, o material foi entregue a Juan Gonzáles, assessor especial da presidência e diretor sênior do Conselho de Segurança Nacional para assuntos do Hemisfério Ocidental.

Gonzáles já trabalhou com Biden durante o governo Obama. Em outubro do ano passado, ao compartilhar no Twitter uma reportagem do Huffpost sobre a relação de Biden com Bolsonaro, Gonzalez escreveu: "Qualquer um, no Brasil ou outro lugar, que achar que pode promover um relacionamento ambicioso com os EUA enquanto ignora questões importantes como mudança climática, democracia e direitos humanos, claramente não tem ouvido Joe Biden durante a campanha".

O documento aborda questões sobre proteção da democracia, direitos indígenas, preservação ambiental, economia, apoio militar e acordo sobre a base de Alcântara, direitos humanos, violência policial, liberdade religiosa, trabalho, saúde pública e pandemia. 

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O relatório foi organizado pela associação chamada Rede nos Estados Unidos pela Democracia no Brasil, fundada em dezembro de 2018 por 200 ativistas e acadêmicos. Membros da organização costumam organizar cartas de repúdio ao governo Bolsonaro, muitas vezes com apoio de parlamentares da ala de esquerda do Partido Democrata no Congresso. 

Entre os nomes que colaboraram com o texto estão: o brasilianista e professor da Brown University, James Green; Paulo Abrão, ex-secretário executivo da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH); e Andrew Miller, da ONG Amazon Watch. No total, há cerca de 120 signatários, entre eles professores e acadêmicos de outras universidades americanas como Yale, UCLA e Columbia e representantes de ONGs ligadas à proteção ambiental, como o Greenpeace e a Friends of the Earth. 

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