Remessas de imigrantes na Espanha aumentam, apesar da crise

Banco Central espanhol diz que envios a outros países em 2011 são os maiores desde 2007; América Latina é o principal receptor.

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Por Anelise Infante
Atualização:

Apesar da forte crise econômica que ameaça forçar a Espanha a pedir um resgate financeiro aos países da zona do euro, as remessas de dinheiro dos imigrantes no país para o exterior aumentaram 17%, o maior valor desde 2007, segundo o Banco Central espanhol. Segundo dados divulgados pelo Banco, os imigrantes que vivem na Espanha enviaram R$ 4,3 bilhões para seus países de origem no período entre janeiro e março, um dos mais críticos da crise na zona do euro. A América Latina é o continente que recebe a maior parte dos envios saídos da Espanha - 56,4% do total -, e Madri é a cidade que emite mais remessas na Europa. De acordo com o Banco Central espanhol, esse índice é facilitado pelo fato de que há uma agência de envio de dinheiro a cada 2 mil habitantes da cidade. As taxas cobradas para o envio internacional de dinheiro na capital espanhola também são 13% mais baratas do que na Alemanha e 11% do que na Grã-Bretanha, França e Itália. Durante o período de bonança econômica no país, em 2007, os imigrantes chegaram a mandar R$ 20 bilhões para seus países em um ano. Remessas De acordo com um relatório da organização espanhola Remessas.Org, que registra os fluxos de envio e o perfil dos imigrantes que mandam dinheiro a outros países, os estrangeiros remetem entre 20% e 30% de tudo o que ganham a cada mês. Atualmente, as nacionalidades que mais transferem dinheiro são chineses, filipinos, paraguaios, bolivianos, colombianos e equatorianos. Os brasileiros passaram do 5º lugar em 2009 para o 13º em 2011. Segundo a organização, os envios brasileiros caíram 35,5% nos últimos dois anos principalmente por duas razões: a entrada em vigor do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) e a melhora da situação econômica no Brasil. "O caso brasileiro tem suas peculiaridades. Apesar de ser um grupo numeroso, quase não aparece em estatísticas de trabalho. A maior parte dos remetentes de dinheiro atua em áreas informais", explicou à BBC Brasil o diretor da Remessas.Org, Iñigo Moré. Essas áreas englobam desde vendas ambulantes e aulas particulares até negócios relacionados à prostituição, de acordo com Moré. Jogo de cintura Apesar do aumento das remessas em 2011, o desemprego não diminuiu entre a população estrangeira que vive na Espanha. Somente no último mês de maio, o índice de imigrantes desempregados subiu 2,7% em relação a 2010. Para o sociólogo da Universidade Complutense de Madri Joaquin Arango a habilidade dos imigrantes em sobreviver a períodos críticos justifica o maior envio de dinheiro, mesmo que os ganhos não tenham sido maiores no último ano. "(Os imigrantes) vêm de realidades sócio-econômicas em que a instabilidade, as oscilações financeiras e a economia submersa são constantes. Portanto, estão mais habituados a contornar as crises do que qualquer europeu", disse. Essa habilidade, segundo Arango, inclui cortar gastos com roupas, viagens e lazer e optar por morar nos chamados "apartamentos-balseiros", lugares que abrigam o maior número possível de pessoas, com o objetivo de diminuir o valor que cada morador paga pelo aluguel. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

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