PUBLICIDADE

Rendição pode levar oponentes do M23 a negociar acordo

Análise

Por Adriana Carranca
Atualização:

Embora o M23 seja apenas um dos 84 grupos rebeldes que atuam na República Democrática do Congo, segundo lista da ONU, sua rendição, se concretizada, seria um passo importante no processo de paz. A criação da milícia, em março de 2012 por dissidentes do Congresso Nacional para a Defesa do Povo (CNDP), integrado ao governo congolês em um frágil acordo em 2009, deu novo impulso aos conflitos de quase duas décadas. Grupos como as Forças Democráticas para a Libertação de Ruanda (FDLR), formadas por hutus e opostas aos tutsis do M23, voltaram a recrutar e intensificaram os ataques. Outros se uniram a um dos dois lados. Com o M23 fora de combate, o motivo para o FDLR existir se enfraquece e o grupo passa a ser alvo principal das operações da ONU. A estratégia do general Carlos Alberto dos Santos Cruz, fortalecido pelo novo mandato do Conselho de Segurança, é pressionar os rebeldes militarmente até que não lhes reste opção que não seja a de negociar.O mesmo foi feito com o M23. Mas o poderio militar do grupo - "similar ao de um Exército regular", nas palavras do general brasileiro - ampliou as suspeitas que recaem sobre Ruanda.Dominado por tutsis, o governo de Kigali vive amedrontado pela possibilidade de uma insurgência de hutus que se esconderam no Congo após o genocídio em 1994, o que justificaria o apoio - desmentido pelo presidente Paul Kagame - ao M23. No último ano, a comunidade internacional ampliou a pressão sobre Kagame, até mesmo com sanções dos EUA. Um acordo real de paz, no entanto, passaria pela prisão dos líderes do M23 e é improvável que eles se entreguem. Há outra questão: a guerra no Congo esconde o interesse nos trilhões de dólares em minérios contrabandeados do país pelos grupos rebeldes para os vizinhos Ruanda, Uganda e Burundi.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.