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Renúncia de embaixadora síria é anunciada e, depois, desmentida

Confusão de versões sobre diplomata que serve em Paris marca o que seria a primeira deserção do regime de Assad

Por Andrei Netto
Atualização:

CORRESPONDENTE / PARISUma mulher identificada como a embaixadora síria na França, Lamia Chakkour, anunciou ontem ao vivo no canal France 24 sua renúncia, em solidariedade aos protestos contra a ditadura de Bashar Assad. Mas, pouco depois, outra mulher que dizia ser a diplomata desmentiu à TV saudita Al-Arabyia a informação sobre a demissão.Na rede de televisão francesa, a suposta representante do regime sírio afirmou que não poderia mais compactuar "com o ciclo de violência", nem com a "honrosa" morte de ativistas. As supostas declarações de Lamia Chakkour - que falou pelo telefone, com imagem congelada e ilustrada com uma foto - foram feitas em comunicado lido na emissora de TV, cuja programação é retransmitida em francês, inglês e árabe. "Mesmo que eu sempre tenha admirado a força e a coragem de nossas Forças Armadas, não posso apoiar esse ciclo de violência", argumentou. "Eu não posso ignorar todos os manifestantes que encontraram a morte honrosa e cujas famílias vivem na dor.""Não falei com nenhum canal de TV em nenhum lugar do mundo", disse em entrevista à Al-Arabyia a mulher que também se identificava como Lamia. "Estou muito brava."O repórter da TV France 24 responsável pela matéria insistiu que a voz da mulher era mesmo a de Lamia. Um editor da emissora disse ter certeza de que se tratava da embaixadora - o repórter já havia telefonado ao número do qual a diplomata falou.A agência Reuters entrou em contato com a embaixada síria na França. Por e-mail, a missão de Damasco confirmou que sua embaixadora tinha renunciado.Segundo a suposta embaixadora, a decisão já tinha sido informada ao presidente Assad. "Reconheço a legitimidade das demandas do povo por mais democracia e liberdade. Minha demissão do cargo de embaixadora da Síria na França é válida", reiterou. A embaixadora pediu ainda que Assad convoque a oposição para formar um novo governo.Violência. Desde o início dos protestos, em 15 de março, mais de 1.1000 civis teriam sido mortos pela polícia e pelo Exército, segundo organizações de defesa dos direitos humanos. A situação política no país ficou ainda mais tensa e instável anteontem, quando o governo acusou os manifestantes de ter executado 120 soldados das tropas do Exército e da polícia em Jisr Al-Choughour, nordeste do país.

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