Repressão na Líbia mata 100 em 4 dias

Forças de segurança atacam manifestantes em funeral e acampados em Benghazi, a segunda maior cidade do país; serviço de internet é cortado de madrugada, removendo um dos poucos meios de a população se informar sobre os protestos contra o governo Kadafi

PUBLICIDADE

Atualização:

Forças especiais de segurança da Líbia dispersaram ontem uma manifestação em Benghazi, a segunda maior cidade do país, deixando pelo menos 15 mortos, enquanto a ONG Human Right Watch, com sede em Nova York, estimava em 84 o número de mortos entre quarta e sexta-feira nos protestos contra o governo do coronel Muamar Kadafi, há 42 anos no poder.O serviço de internet também foi cortado de madrugada, removendo um dos poucos meios usados pelos líbios para obter informações sobre os protestos antigoverno em um dos países mais isolados do Norte da África.Forças de segurança dispararam contra centenas de manifestantes que saíam do funeral das 35 vítimas de sexta-feira ou estavam acampados diante do tribunal da cidade de Benghazi, leste da Líbia, que tem sido o foco dos protestos inspirados nos que ocorreram no Egito e na Tunísia e levaram à deposição de seus presidentes."Eles lançaram bombas de gás lacrimogêneo contra as pessoas que estavam nas barracas e esvaziaram a área após muitos fugirem carregando os mortos e feridos", disse um manifestante por telefone. "Esta é uma cidade fantasma; estamos todos com medo de que algo grande possa ocorrer em Benghazi hoje (ontem)." Dezenas de pessoas foram detidas ontem, acusadas de tentar desestabilizar a Líbia. Moradores de Benghazi disseram ontem por telefone à rede BBC que as forças de segurança levaram críticos do governo de suas casas. Milhares de manifestantes vêm pedindo a renúncia de Kadafi nas principais cidades do empobrecido país. Mas as manifestações têm sido reprimidas com violência pelas forças de elite e milícias armadas. A Human Rights Watch informou ontem que 84 pessoas foram mortas entre quarta e sexta-feira. O levantamento foi feito com base em informações de testemunhas e hospitais.Na cidade de Al-Bayda, uma imagem de vídeo obtida pela BBC mostrava corpos ensanguentados em um necrotério e manifestantes incendiando um prédio municipal e demolindo um monumento em homenagem a Kadafi. Um manifestante disse à BBC que soldados mudaram de lado em algumas localidades e se juntaram aos protestos: "Os soldados dizem que também são cidadãos deste país e não podem combater seus compatriotas".Em meio à repressão, o jornal semi-independente Quryna informou que o governo pode substituir alguns funcionários de alto escalão do Estado e reestruturar o governo. O diário não esclareceu se a medida política era uma resposta aos crescentes protestos. A Líbia tem uma grande reserva de petróleo, mas a pobreza é um dos principais problemas do país. Diplomatas americanos disseram em telegramas vazados recentemente que o regime de Kadafi parece ter negligenciado intencionalmente o leste da Líbia, deixando o desemprego e a pobreza aumentar para enfraquecer seus opositores. / AP e REUTERS

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.