Republicanos bloqueiam possível testemunho de tradutora da cúpula entre Putin e Trump

Para autoridades russas, ideia estabeleceria 'precedente perigoso', ameaçando diplomacia entre EUA e Rússia

PUBLICIDADE

Atualização:

WASHINGTON - Os deputados republicanos da Comissão de Inteligência da Câmara dos Deputados dos Estados Unidos bloquearam nesta quinta-feira, 19, uma medida para intimar a tradutora americana Marina Gross que trabalhou na cúpula de Helsinque. A ideia era que ela testemunhasse sobre as negociações privadas entre os presidentes americano, Donald Trump, e russo, Vladimir Putin.

A tradutora americana Marina Gross durante uma reunião entre Putin e Trump Foto: EFE/ Alexey Nikolsky-Sputnik Kremlin

PUBLICIDADE

O principal democrata da comissão, o deputado Adam Schiff, disse querer que a tradutora, uma funcionário do Departamento de Estado, compareça a uma sessão fechada, argumentando que o Congresso deve "descobrir o que foi dito" durante a reunião de duas horas entre os presidentes.

"Cabe a nós, dado que o presidente disse publicamente que era de grande preocupação para o nosso país, para nossas aliados da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), que descubramos o que foi dito em particular", disse Schiff.

O legislador reconheceu que seria uma medida "extraordinária", mas acrescentou que também é extraordinário que Trump se encontre sozinho com um adversário dos EUA.

Os democratas do Senado também têm pressionado para que a tradutora testemunhe, com o objetivo de determinar se Trump fez algum acordo com Putin durante a sessão.

Casa Branca e membros do Congresso americano estão preocupados com a possibilidade de Moscou influenciar a eleição legislativa de meio de mandato Foto: Heikki Saukkomaa/Lehtikuva via AP

O senador democrata e líder da minoria, Chuck Schummer, questionou se algum funcionário de alto escalão, incluindo o secretário de Estado, Mike Pompeo, ou o secretário de Defesa, James Mattis, recebeu detalhes sobre a reunião ou foi informado sobre quaisquer acordos militares ou de segurança entre Trump e Putin.

"É absolutamente surpreendente que ninguém saiba o que foi dito", disse Schummer. "Isso é uma democracia. Se o seu presidente fizer acordo com um de nossos maiores - senão o maior - adversário, seu gabinete precisa saber disso e o povo americano também", argumentou o senador.

Publicidade

Os republicanos marcaram uma audiência na próxima semana para que Pompeo testemunhe na Comissão de Relações Exteriores. O presidente da comissão, senador republicano Bob Corker, disse que se opõe à obtenção do testemunho do tradutor da reunião de Trump com Putin. "Não me parece apropriado", disse.

A primeira a levantar a possibilidade do testemunho da tradutora foi a senadora democrata Jeanne Shaheen, que participa da comissão. "O Congresso deve exercer sua autoridade para controlar a presidência", argumentou. Ela observou que o tradutor é um funcionário do governo dos EUA.

Na Câmara, o presidente da Comissão de Inteligência, o republicano Devin Nunes, colocou a questão para votação. O resultado ficou em 11 votos contra e 6 a favor.

A reação russa

PUBLICIDADE

Na Rússia, a sugestão também foi rejeitada. Políticos se mobilizaram em apoio a Putin para denunciar a proposta de que a tradutora testemunhe. O embaixador russo nos EUA, Anatoly Antonov, expressou esperança de que "os acordos verbais entre Putin e Trump serão cumpridos".

Autoridades russas minimizaram os relatos contraditórios do presidente americano após a cúpula. No entanto, demonstraram estar com raiva da proposta de interrogar a tradutora. O chefe da Comissão de Relações Exteriores da Câmara Alta do Parlamento, Konstantin Kosachev, disse que a ideia estabelece um precedente perigoso e ameaça "toda a ideia de diplomacia", segundo informaram agências de notícias russas. / AP

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.