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Republicanos estimam em 2 semanas prazo para tentar frear ‘intruso’Trump

Após bom desempenho de bilionário nas prévias da Superterça, conservadores cogitam até mesmo da possibilidade de tentar barrar sua indicação impondo outro nome durante a convenção partidária de julho, apesar do grande risco que essa estratégia envolveria

Por Cláudia Trevisan
Atualização:

WASHINGTON - O establishment do Partido Republicano tem duas semanas para conseguir uma façanha que parece cada vez menos provável: barrar a caminhada de Donald Trump rumo à candidatura da legenda para a Casa Branca. O bilionário ganhou 10 das 15 prévias estaduais realizadas até agora e poderá garantir a nomeação se vencer na maioria dos Estados que vão às urnas entre sábado e o dia 15.

Grandes doadores republicanos começaram a financiar anúncios com ataques ao bilionário, enquanto aumentou o número de líderes e congressistas da legenda que declaram que não apoiarão Trump em nenhuma circunstância. Hoje, o candidato do partido à presidência em 2012, Mitt Romney, fará um discurso no qual deverá rejeitar de maneira contundente a nomeação de Trump.

Donald Trump tira foto com eleitor em Louisville, Kentucky; magnata venceu na maioria dos Estados da Superterça Foto: REUTERS/ Chris Bergin

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Mas há quase um consenso entre analistas de que a reação veio tarde demais. “A elite do partido não o levou a sério”, disse ao Estado David Karol, professor do Departamento de Política da Universidade de Maryland e autor de The Party Decides (O Partido Decide), no qual analisa o processo tradicional de escolha de candidatos presidenciais nos EUA.

No livro, ele mostra que o comando partidário historicamente conseguiu controlar o processo de nomeação de seus representantes na disputa pela Casa Branca. Mas a tese foi contrariada por Trump. “Nunca vi nada parecido”, afirmou. “Ele é um invasor que chegou ao partido sem ser convidado, sem apoio de ninguém atuante na legenda, mas com apelo a um amplo segmento dos eleitores.”

Além dos votos, o bilionário tem a seu favor a divisão de seus adversários, que deve persistir. Ontem, o neurocirurgião Ben Carson anunciou que está fora da corrida, mas os senadores Ted Cruz e Marco Rubio e o governador de Ohio, John Kasich, se mantêm no páreo e evitam a consolidação dos votos anti-Trump num único nome. 

“Não há um candidato óbvio que possa desafiar Donald Trump”, disse ao Estado Cal Jillson, professor de Ciência Política da Universidade Metodista do Sul, localizada no Texas. Em sua opinião, o bilionário conseguirá a nomeação e terá de ser aceito pela elite do partido. “Eles sabem que isso significará a derrota nas eleições gerais de novembro.”

Kyle Kondik, da Universidade da Virgínia, disse que Rubio ainda é a alternativa mais viável a Trump, apesar de ter vencido apenas 1 dos 15 Estados em que houve prévias eleitorais.

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Segundo ele, o perfil dos eleitores que irão às urnas nas próximas semanas é menos conservador do que os que votaram na Superterça, na qual Cruz saiu vitorioso em três Estados. O cenário mais otimista para a elite republicana é aquele em que Trump não consegue o número suficiente para garantir sua eleição antes da convenção partidária, marcada para julho. “Não tivemos experiência semelhante na história”, observou Kondik.

Em tese, o establishment poderia tentar impor um nome alternativo durante a disputa, mas seria uma estratégia de alto risco. “Se for barrado na convenção, Trump poderá lançar sua candidatura como independente, o que seria um desastre”, ponderou Karol. “Não vejo como esse processo possa terminar bem para a elite partidária.” Jillson acrescentou que o partido corre o risco de alienar seus eleitores caso se recuse a chancelar um candidato escolhido por eles.

Os analistas ressaltaram que o bilionário poderá ser barrado se perder em muitos dos Estados que realizarão prévias nas próximas semanas, especialmente na Flórida, mas a hipótese parece improvável. Depois da vitória na Superterça, Trump tentou adotar um tom conciliador e se apresentar como um “unificador” do partido. Horas antes, ele havia sido criticado pelos republicanos que presidem a Câmara dos Deputados, Paul Ryan, e o Senado, Mitch McConnell, por não ter rechaçado de maneira explícita o apoio do supremacista branco David Duke, um ex-líder da Ku Klux Klan.

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