22 de janeiro de 2020 | 10h02
O julgamento político contra o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, entrou em uma nova etapa nesta quarta-feira, 22. Após o Senado ter debatido até altas horas da noite as regras do processo, o partido Republicano conseguiu bloquear todas as tentativas dos democratas de convocarem autoridades como testemunhas.
Antes de se concentrarem nas acusações atribuídas a Trump - como abuso de poder e obstrução ao Congresso -, os republicanos, que dominam a maioria de cargos do Senado por 53 a 47, enfrentaram durante 13 horas a oposição democrata, em um debate que foi até quase 2h desta madrugada (4h no horário de Brasília).
Democratas americanos resistem a Bolsonaro
Todas as tentativas da oposição de citar testemunhas-chave e obter documentos foram bloqueadas pela maioria republicana, um indício de como o processo deve transcorrer no Senado e que, provavelmente, terminará com a absolvição do presidente Trump, a tempo de ele buscar a reeleição em novembro deste ano.
O líder da maioria republicana no Senado, Mitch McConnel, apresentou ainda na noite desta segunda-feira, 20, um projeto de resolução sobre o procedimento, com o qual busca estabelecer restrições às provas da investigação e à participação de testemunhas, além de buscar acelerar o processo.
Neste cronograma, são estabelecidas três sessões de oito horas para a acusação, tempo equivalente para a defesa e depois 16 horas para os interrogatórios. Este seria um passo a passo adaptado, após a proposta inicial de sessões vespertinas com duração de até 12 horas, o que foi duramente criticado pelos democratas.
A mudança de horários e agenda foi a única admitida por McConnell. Todas as outras 11 emendas apresentadas pelo chefe da bancada democrata, Chuck Schumer, que tentou convocar altos funcionários próximos a Trump para depor e obter documentos, foram rejeitadas sistematicamente, com os 53 senadores republicanos votando em bloco.
Quatro meses após o surgimento do escândalo entre o atual governo dos EUA e a Ucrânia, e a dez meses das eleições presidenciais, os 100 senadores deram início ao impeachment de Donald Trump, que se tornou o terceiro presidente na história do país a ser julgado nesse processo, depois de Andrew Johnson, em 1868, e de Bill Clinton, em 1999.
Segundo a acusação, Trump tentou pressionar a Ucrânia a interferir a seu favor nas eleições de 2020, sugerindo ao presidente do país europeu que investigasse os negócios do filho de Joe Biden, um dos pré-candidatos democratas com mais chances de enfrentá-lo no pleito presidencial de novembro.
Os democratas que lideraram a investigação ainda acusaram o presidente de obstruir a investigação no Congresso ao recusar que seus principais assessores testemunhassem. De acordo com eles, Trump pressionou a Ucrânia retendo cerca de 400 milhões de dólares em ajuda militar para o país, que está em conflito com rebeldes pró-Rússia no leste de seu território.
Na terça, o processo transcorreu de acordo com um protocolo que determina que nem aplausos nem telefones celulares são permitidos na sala e que apenas água ou leite pode ser levado para dentro da câmara. Uma das figuras centrais foi o democrata Adam Schiff, responsável pela acusação contra Trump, que defendeu a convocação de testemunhas e a apresentação de documentos.
"A verdade virá à tona. A questão é quando", disse Schiff aos senadores. O representante de Trump, Pat Cipollone, disse que um julgamento partidário equivale a "roubar uma eleição" e considerou que bloquear o testemunho de funcionários do alto escalão da Casa Branca é um "ato de patriotismo". "Eles querem tirar o presidente Trump das urnas", declarou, em referência às próximas eleições.
A senadora Elizabeth Warren, uma das pré-candidatas democratas ao pleito de 2020, expressou-se severamente depois que os republicanos enterraram uma emenda para citar o chefe de gabinete da Casa Branca, Mick Mulvaney. "Sejamos claros: não estaríamos aqui apresentando emendas às 22h se o senador McConnelly e os republicanos não estivessem tentando manipular as regras do julgamento político", afirmou Warren.
Por sua parte, Trump, que está em Davos para participar do Fórum Econômico Mundial, voltou a descrever o processo como uma "caça às bruxas que vem ocorrendo há anos".
Encontrou algum erro? Entre em contato
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.