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Resistência hondurenha ameaça boicotar eleições

Condição para legitimar o pleito é restituição de Manuel Zelaya ainda nesta quinta-feira.

Por Claudia Jardim
Atualização:

A Frente de Resistência Contra o Golpe em Honduras anunciou que caso o presidente deposto, Manuel Zelaya, não seja restituído até a meia-noite desta quinta-feira (horário loca, 4h de sexta-feira em Brasília), chamarão a população a não participar nas eleições do próximo dia 29 de novembro. "Se hoje (...) mais tardar à meia-noite, não for restituído em seu cargo o presidente Manuel Zelaya, a Frente Nacional de Resistência Contra o Golpe de Estado desconhecerá o processo eleitoral", diz um comunicado. Se a medida for efetivada, ao menos dois candidatos presidenciais, Carlos H. Reyes (independente) e César Ham (União Democrática) podem renunciar ao pleito. A decisão foi lida por Rafael Alegria, um dos dirigentes da Resistência, em frente ao Congresso Nacional, onde milhares de pessoas se mantêm em "vigília" para pressionar o Parlamento à votar o acordo que permita o retorno de Zelaya à Presidência. A Resistência, que protesta nas ruas desde a deposição do presidente, há 131 dias, fez um chamado às organizações sociais a estarem "prontas para executar ações de desconhecimento da farsa eleitoral". No comunicado, a Frente acusa a Organização de Estados Americanos (OEA) e o governo dos Estados Unidos de "cúmplices do golpe de Estado militar" e convocam a comunidade internacional a manter a posição de "não legitimar" do processo eleitoral e do governo interino. Brasil e a maioria dos países da América Latina afirmam que não reconhecerão o resultado das eleições, caso Zelaya não seja restituído. Impasse Segundo o cronograma do acordo Tegucigalpa-San José, firmado na sexta-feira sob mediação do Departamento de Estado norte-americano - um governo de unidade nacional deveria ser estabelecido nesta quinta-feira, sob vigilância de uma Comissão de Verificação, composta por dois representantes internacionais e dois locais. O novo impasse na implementação do acordo, no entanto, surgiu na terça-feira, quando líderes do Congresso hondurenho decidiram adiar a votação do acordo sobre a restituição do presidente deposto. Os Parlamentares argumentaram que, antes de submeter o acordo à votação no plenário, queriam ouvir a opinião da Justiça. Para Zelaya, que interpreta que o acordo necessariamente deve levar à sua restituição, a decisão dos Congressistas é parte de uma manobra para dilatar o acordo enquanto se aproxima as eleições. Ainda nesta quinta-feira, Zelaya acusou o governo interino de fracassar em aderir aos termos do acordo firmado na última semana. Em entrevista ao programa Newshour, da BBC, ele pediu que o Congresso vote sobre sua restituição antes do final do prazo. Mas autoridades do governo interino voltaram a afirmar que a restituição do líder deposto não é um componente essencial do acordo. Os representantes do governo interino afirmam ainda que Zelaya terá de acatar a decisão do Congresso, seja ela qual for. Nesta quinta-feira, os negociadores de Micheletti anunciaram já ter preparada uma lista de nomes para a composição do novo governo. Zelaya, por enquanto, rejeita aceitar a composição de um governo de unidade, sem que o presidente deposto seja restituído. "Até a meia-noite nós temos que esperar o cumprimento do acordo. Seria uma pena que um acordo avalado por toda a comunidade internacional não fosse cumprido", disse Zelaya, em entrevista concedida de dentro da embaixada do Brasil à televisão nacional do Chile. Em entrevista à BBC Mundo, o porta-voz do Supremo Tribunal de Justiça, Danilo Eyzaguirre, disse que é "pouco provável" que Zelaya seja restituído e que os negociadores do presidente deposto "puseram uma forca em Zelaya" ao aceitar os termos do acordo firmado entre as duas partes. "Quem fechou o acordo? O acordo não diz que tenham que restituí-lo amanhã. Quem firmou o acordo foram seus representantes e eu digo, em minha opinião particular, que puseram a forca", disse. Renúncia Mais cedo, o ex-presidente chileno, Ricardo Lagos - membro da Comissão de Verificação do acordo - disse que o líder interino Micheletti estaria disposto a renunciar quando fosse instalado o governo de unidade. Zelaya, em entrevista ao canal Telesur, ironizou a iniciativa de Micheletti e disse não confiar em sua palavra. " Há um mês ele vem renunciando e nunca o fez (...) ele não cumpre com os acordos", afirmou o mandatário deposto. Desde a deposição de Zelaya, Micheletti vem afirmando estar disposto a renunciar, nas oportunidades anteriores, sob a condição de que o presidente eleito não voltasse à Presidência. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

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