A derrota do governo de Cristina Kirchner nas eleições parlamentares de domingo marca o início da corrida presidencial de 2011 na Argentina. As urnas, aparentemente, enterraram de vez a ambição do ex-presidente Néstor Kirchner de substituir sua mulher na Casa Rosada e destacaram os rivais dos Kirchner como potenciais concorrentes às próximas eleições, em especial o atual vice-presidente, Julio Cobos. Entretanto, a votação também mostrou que, em 2011, dificilmente os argentinos terão como opção um candidato sem nenhuma ligação, no passado, com o peronismo. Cobos surge como um dos grandes vencedores da eleição parlamentar, ao ver a vitória de seus aliados na província natal de Mendoza, e tende a consolidar a posição de candidato anti-Kirchner. Rompido com o casal Kirchner desde julho, quando deu o voto decisivo no Senado contra o projeto de aumentar impostos de exportação agropecuária, Cobos vinha sendo tratado como um pária na Casa Rosada. Ontem, foi chamado por Cristina para a reunião de gabinete sobre os rumos do governo. Entre os "peronistas desde criancinha", a disputa será mais intrincada para 2011. O ex-presidente do Boca Juniors Maurício Macri, hoje prefeito de Buenos Aires pelo Partido Proposta Republicana, conseguiu atrair dissidentes peronistas para formar a coalizão União-Pro, que saiu vitoriosa no domingo. Apoiou a chapa liderada por Francisco de Narváez, que derrotou Kirchner na Província de Buenos Aires, e foi o padrinho da chapa de Gabriela Michetti, companheira de partido que desbancou por larga margem a opção governista na capital. Mas se por um lado demonstrou alguma habilidade política, Macri também encarnou a imagem de mau administrador que se refletiu na perda de votos em Buenos Aires. Em 2007, foi de 45,7%. No domingo, baixou para 31,1%. De Narváez, por enquanto, não entra no páreo de 2011 porque nasceu na Colômbia e depende de uma mudança na legislação para poder se candidatar. Derrotada por Cristina, em 2007, a deputada Elisa Carrió não conseguiu se reeleger. Mas a coalizão que ela ajudou a forjar, o Acordo Cívico e Social, tornou-se a maior força de oposição no Congresso e pode impulsionar sua candidatura. O núcleo duro do peronismo tende a se reorganizar em torno do ex-piloto de Fórmula 1 e ex-governador de Santa Fé Carlos Reutmann, que renovou sua cadeira no Senado com uma bandeira anti-Kirchner. Kirchner, que deixou a liderança do Partido Justicialista (peronista), deve se autoexilar por algum tempo. Até domingo, ele tinha no governador da Província de Buenos Aires, Daniel Scioli, uma alternativa para o caso de não se lançar candidato em 2011. Mas Kirchner obrigou Scioli a aderir à chapa oficial e, juntos, deram-se um abraço de afogados. De olho em 2011 Julio Cobos Vice-presidente Rompeu com Cristina em julho de 2008. Suas ambições presidenciais foram reforçadas pela vitória de seus aliados em Mendoza, sua província natal Carlos Reutemann Senador reeleito por Santa Fé É representante do peronismo dissidente, mas também pode sair como candidato de consenso de peronistas aliados dos Kirchners e peronistas dissidentes Mauricio Macri Prefeito de Buenos Aires Presidente do Partido Proposta Republicana (centro-direita), ganhou força com a vitória de seus aliados. Seu partido é ligado ao peronismo dissidente Elisa Carrió Líder da Coalizão Cívica Em 2007 ficou em 2.º nas eleições presidenciais. Suas chances dependem do protagonismo que sua coalizão, a principal de oposição, tenha no Legislativo Daniel Scioli Governador da Província de Buenos Aires Foi vice-presidente de Néstor Kirchner e é cogitado como presidenciável para iniciar um ?kirchnerismo sem os Kirchners?, mais moderado Francisco de Narváez Líder do peronismo dissidente Estrela desta eleição, é responsável pela 1.ª derrota de Kirchner. Mas sua candidatura depende de encontrar brecha na lei que proíbe eleição de quem nasceu fora do país