22 de janeiro de 2015 | 20h31
WASHINGTON - A primeira reunião entre EUA e Cuba sobre o restabelecimento de relações diplomáticas terminou sem resultados concretos, com uma queda-de-braço entre os dois países sobre os limites da atuação dos futuros representantes americanos em Havana. Para o governo de Raúl Castro, as missões devem respeitar os diferentes sistemas “político, econômico e social” e não interferir em assuntos internos do outro país.
A crítica à situação dos direitos humanos é uma constante nos pronunciamentos de autoridades dos EUA em relação a Cuba e foi discutida no encontro de ontem, segundo a subsecretária do Departamento de Estado, Roberta Jacobson, a mais importante funcionária americana a pisar em Havana em 38 anos.
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Segundo ela, a abertura de embaixadas é apenas um aspecto do processo de normalização do relacionamento entre os dois países, que romperam laços diplomáticos há 53 anos. Também é o mais simples. Outros temas que Jacobson classificou de “complexos” continuarão a ser discutidos no futuro, em um processo no qual os dois países tentarão superar “50 anos de um relacionamento que não era baseado na confiança”.
Entre os temas espinhosos, está a demanda americana de indenização pelas expropriações de propriedades e empresas depois da Revolução de 1959. O Departamento de Justiça reconheceu 5.913 pedidos, em um valor atualizado de US$ 7 bilhões. Do lado cubano, o levantamento do embargo econômico é “essencial” para a normalização das relações com os EUA, segundo a representante do país nas negociações, Josefina Vidal, do Ministério das Relações Exteriores.
Os dois lados terão pelo menos mais uma reunião antes de decidirem os prazos e as condições para abertura de suas embaixadas. Vidal disse que uma das condições para o avanço das conversas é o restabelecimento dos serviços bancários para a seção de interesses de Cuba em Washington, suspensos há um ano em razão de sanções decorrentes da inclusão de Cuba na lista de países que apoiam o terrorismo.
A retirada da nação da relação é um dos pontos do acordo que levou os presidentes Barack Obama e Raúl Castro a anunciarem a retomada das relações diplomáticas, no dia 17 de dezembro.
Os EUA querem que os cubanos tenham livre acesso à sua futura missão em Havana e que seus diplomatas não tenham restrições para viajar dentro de Cuba. Também exigem o livre envio de materiais e equipamentos para a embaixada e a inexistência de limites para o número de funcionários que podem ter no país.
Os dois lados disseram que o funcionamento das missões estará sujeito à Convenção de Genebra e a tratados internacionais, mas nem sempre concordaram com a interpretação dos textos. Além disso, Jacobson observou que as regras “não respondem” a todas as perguntas colocadas por uma relação “tão peculiar” como a que os dois países tiveram até agora.
Em declarações separadas transmitidas ao vivo na internet pelo Ministério das Relações Exteriores de Cuba, Jacobson e Vidal ressaltaram as diferenças e divergências entre seus dois governos, mas ponderaram que elas não devem ser obstáculo ao restabelecimento de relações diplomáticas.
Vidal defendeu uma relação “civilizada e pacífica” entre países que têm “concepções distintas sobre diversos temas”. E ressaltou que não se deve esperar mudanças internas em Cuba em troca do levantamento do embargo econômico dos EUA. Jacobson observou que Washington manterá a pressão por mudanças na área de direitos humanos e deseja levar essas questões diretamente ao governo cubano.
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