A primeira reunião de alto nível entre Estados Unidos e Cuba sobre o restabelecimento de relações diplomáticas foi realizada ontem e terminou sem resultados concretos e com uma queda de braço sobre limites da atuação dos futuros representantes americanos em Havana. Para o governo da ilha, as missões devem respeitar os diferentes sistemas "político, econômico e social" e não interferir em assuntos internos. A crítica à situação dos direitos humanos é uma constante nos pronunciamentos de autoridades dos EUA em relação a Cuba e foi discutida no encontro, segundo a subsecretária do Departamento de Estado para a América Latina, Roberta Jacobson, a mais importante autoridade americana a pisar em Havana em 38 anos. Segundo ela, a abertura de embaixadas é o aspecto mais simples do processo de retomada da relação entre os dois países, que romperam laços diplomáticos há 53 anos. Outros temas que Jacobson qualificou de "complexos" continuarão a ser discutidos, em um processo para tentar superar "50 anos de um relacionamento que não tinha a confiança como base". Entre os temas espinhosos, está a demanda americana de indenização pelas expropriações de propriedades e empresas depois da Revolução Cubana, em 1959. O Departamento de Justiça reconhece 5.913 pedidos, em um valor atualizado de US$ 7 bilhões. Do lado cubano, o fim do embargo econômico é "essencial" para a normalização das relações, segundo a representante de Cuba nas negociações, Josefina Vidal, do Ministério das Relações Exteriores. Haverá pelo menos mais uma reunião antes da decisão de prazos e condições para abertura de embaixadas. Josefina disse que uma das condições para o avanço das conversas é o restabelecimento dos serviços bancários para a seção de interesses de Cuba em Washington, suspensos há um ano em razão de sanções decorrentes da inclusão de Cuba na lista de países que apoiam o terrorismo. A retirada da ilha dessa relação é um dos pontos do acordo que levou os presidentes Barack Obama e Raúl Castro a anunciar a retomada de relações, em 17 de dezembro. Os EUA querem que os cubanos tenham livre acesso à sua futura missão em Havana e seus diplomatas não tenham restrições para viajar dentro de Cuba. Também exigem o livre envio de materiais e equipamentos para a embaixada e a inexistência de limites para o número de funcionários. Os dois lados disseram que o funcionamento das missões estará sujeito à Convenção de Genebra e a tratados internacionais, mas nem sempre concordaram com a interpretação dos textos. Além disso, Jacobson observou que as regras "não respondem" a todas as perguntas de uma relação "tão peculiar". Em declarações transmitidas ao vivo pelo Ministério das Relações Exteriores de Cuba, Jacobson e Josefina ressaltaram as diferenças e divergências entre seus governos, mas ponderaram que elas não devem ser obstáculo ao restabelecimento de relações diplomáticas. A cubana defendeu uma relação "civilizada e pacífica". Jacobson afirmou que Washington manterá a pressão por mudanças na área de direitos humanos e deseja levar essas questões diretamente ao governo cubano.