Revelações de ex-reféns das Farc viram best seller

Livros trazem detalhes picantes e indiscrições sobre a vida no cativeiro

PUBLICIDADE

Por Juan Forero e BOGOTÁ
Atualização:

Num livro intitulado Out of Captivity (fora do cativeiro, na tradução literal), três americanos escrevem que os rebeldes dar Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) os mantiveram acorrentados pelo pescoço durante os cinco anos em que foram prisioneiros e revelam tensões que surgiam entre eles e os outros reféns. Outro ex-refém, Fernando Araújo, narra em seu livro a angústia de encontrar a mulher com outro homem depois da fuga das garras dos guerrilheiros. Luis Eladio Pérez conta que, durante os anos em que permaneceu prisioneiro dos rebeldes, deu-se conta de que, quando político, deixou-se absorver excessivamente por seus próprios interesses. Lucy Artunduaga, cujo marido foi refém, escreve que ficou sabendo de que ele se apaixonara por outra prisioneira durante os seis anos de cativeiro. E a Colômbia aguarda ansiosamente o que Ingrid Betancourt, a política franco-colombiana e a mais famosa de todos os reféns, dirá em um livro cuja publicação é esperada para o segundo semestre deste ano. Atualmente, as livrarias na Colômbia estão repletas de histórias de ex-reféns que expõem em detalhes como conseguiram sobreviver às marchas forçadas, aos bombardeios militares, aos parasitas que grassam na selva e aos maus-tratos infligidos por guardas sádicos. Alguns autores, entretanto, foram mais fundo, explorando a própria fragilidade em condições terríveis de vida ou contando o inevitável drama humano que se desenrolava na selva, desde a rivalidade em prisões improvisadas aos romances que nascem entre alguns reféns. Os livros geraram uma onda de controvérsias num país em que as pessoas tendem a evitar a divulgação de questões íntimas. Alguns - colunistas de jornais, apresentadores de programas de rádio e os ex-reféns mais discretos - criticaram energicamente a tendência. "Não se entende muito bem o que se pretende com a avalanche de revelações que, às vezes, parecem questionar o comportamento das vítimas de um flagelo em vez de apontar o dedo para os que perpetraram este crime", disse o principal jornal colombiano, El Tiempo, num editorial. "Esse triste espetáculo deveria acabar." No entanto, os leitores ficam fascinados - e os livros vendem rapidamente. Refém das Farc durante sete anos, de Pérez, um ex-congressista, vendeu 27 mil exemplares - num país em que vender 3 mil é considerado um sucesso. Os militares colombianos divulgaram seu relato da astuciosa operação que libertou os americanos e 12 outros reféns em julho passado. Até o embaixador de Cuba na Venezuela, Germán Sánchez, escreveu um livro sobre a saga dos reféns (com um prefácio de Fidel Castro). Na década atual, as Farc passaram a sequestrar personalidades de destaque para usá-las como elementos de barganha política em suas negociações com o governo. Livros como Minha fuga para a liberdade, de John Frank Pinchao, vendem bem por causa do clima de aventura que exploram. Depois de ficar no cativeiro por mais de seis anos, numa noite, o ex-policial Pinchao fugiu do acampamento onde era mantido refém durante uma tempestade e se deixou levar para a liberdade pela correnteza de um rio.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.