Reyes e Sanchéz de Lozada chegam na frente na Bolívia

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Por Agencia Estado
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O ex-presidente Gonzalo Sánchez de Lozada e o ex-prefeito de Cochabamba Manfred Reyes Villa foram os dois primeiros colocados na eleição presidencial deste domingo na Bolívia. Os 27 senadores e 130 deputados eleitos escolherão o presidente entre esses dois nomes, já que nenhum candidato obteve mais da metade dos votos. O líder cocaleiro Evo Morales ficou em terceiro lugar e o ex-presidente Jaime Paz Zamora, em quarto. De acordo com as projeções do instituto Mori com base em 93% dos votos computados, Sánchez de Lozada, dirigente do tradicional Movimento Nacionalista Revolucionário (MNR), obteve 21,7%; o capitão da reserva Reyes, candidato pela Nova Força Republicana (NFR), teve 20,2%; Morales, 17,9%; e Paz Zamora, 15,8%. Os resultados confirmam o crescimento formidável da candidatura de Morales, antecipado pelas últimas pesquisas de intenção de voto, que, no entanto, o colocavam em quarto lugar, atrás de Paz Zamora. A projeção do Mori indica empate de Morales e Reyes no Departamento de La Paz, com 20% dos votos, seguidos por Sánchez de Lozada, com 16%, e Paz Zamora, 15%. Mais surpreendente ainda é a vitória do líder cocaleiro (33%) sobre o capitão da reserva (28%) no Departamento de Cochabamba, de cuja capital Reyes foi eleito prefeito quatro vezes (1993-2001). Sánchez de Lozada (28%) venceu Paz Zamora (24%) e Reyes (23%) em Santa Cruz, o segundo colégio eleitoral. Apesar de algumas surpresas, os principais institutos de pesquisas se saíram melhor do que a cartomante Karma, famosa na Bolívia, que previu que o Brasil perderia para a Alemanha. Programas Reyes, 47 anos, cujo slogan foi "mudança positiva", apresentou um programa de governo de cunho nacionalista, com forte intervenção estatal. Propõe reestatizar a companhia petrolífera YPFB e rever os demais contratos de privatização. Sánchez de Lozada, 71 anos, presidente entre 1993 e 1997, tem um perfil mais liberal, mas também promete reativar a economia por meio de grandes obras públicas. Morales defende a reestatização de todas as empresas privatizadas e a liberação dos cultivos de coca. Foi expulso da Câmara dos Deputados em janeiro, sob acusação de defender o narcotráfico. A pergunta mais importante para os principais candidatos neste domingo era com quem poderiam aliar-se no Congresso, que tem até a véspera da posse, dia 6 de agosto, para escolher o presidente. "Fizemos uma campanha limpa, sem ofender ninguém", disse Reyes, abrindo caminho para as negociações, e mencionando a importância da "união nacional". Incertezas O destino das alianças no Congresso é incerto, mas uma tendência, até ontem, era um acordo entre a NFR de Reyes e o Movimento de Esquerda Revolucionária (MIR) de Paz Zamora, para isolar o MNR. Paz Zamora e Sánchez de Lozada têm velhas contas a acertar. "Querem um furo de reportagem?", ofereceu Paz Zamora, em entrevista em sua casa, no fim da tarde de sábado. "Goni (Gonzalo Sánchez de Lozada) não será presidente. Não percam seu tempo." O candidato do MIR, que se declara "socialista", preparou o terreno para uma aliança com Reyes, considerado um populista de direita. "É difícil caracterizar Manfred ideologicamente", disse Paz Zamora. "Goni, eu situo perfeitamente: é um clone de Domingo Cavallo (ex-ministro da Economia da Argentina), o mais puro neoliberal da América Latina." Paz Zamora lembrou que Reyes vem do chamado "campo conservador": do grupo do ex-ditador Luis García Meza (1980-81). "Mas ele enfrentou a realidade e adquiriu uma inquietude social quando prefeito de Cochabamba." O início da votação, previsto para as 8h locais (9h em Brasília), atrasou-se em muitas seções, por causa da final da Copa do Mundo. Depois do jogo, dezenas de brasileiros que vivem na Bolívia foram festejar na Avenida 16 de Julho, equivalente em La Paz à Avenida Paulista de São Paulo. Mas foram dispersos pela polícia, porque a lei proíbe conglomerações no dia das eleições. Uma caminhonete com brasileiros foi levada a uma delegacia de polícia. Somente veículos com autorização da Corte Eleitoral podem trafegar em dia de eleições na Bolívia. Os eleitores saem para votar à pé ou de bicicleta, em seções perto de casa.

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