Rice defende acordo para dividir tecnologia nuclear com a Índia

A secretária de Estado assegurou que o pacto não ameaça expandir o programa nuclear bélico indiano e iniciar uma corrida armamentista na região

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Por Agencia Estado
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A secretária de Estado americana Condoleezza Rice pediu nesta quarta-feira a aprovação do Congresso para um plano sem precedentes de compartilhamento de tecnologia nuclear com a Índia. Rice afirmou que o acordo não ameaça iniciar uma corrida armamentista na Ásia. "Os reatores civis indianos seriam submetidos à inspeção internacional e a energia da Índia aumentaria", disse a secretária. Contudo, o trabalho de Nova Délhi em armas nucleares não seria restringido e o discurso de Rice foi recebido com considerável ceticismo. "Eu temo que este pacto deixará o mundo menos seguro, não mais", disse o senador democrata Russell Feingold. O Chefe do Comitê de Relações Externas do Senado, Richard Lugar, concordou que sob o acordo a Índia estaria sujeita a mais salvaguardas internacionais. Entretanto, Lugar, um republicano com grande interesse no controle de armas, disse que o acordo "não impediria a Índia de expedir seu arsenal nuclear". Ainda assim, dois democratas, os senadores Joseph Biden e John Kerry, sinalizaram que estariam inclinados a votar a favor do acordo. "Não é um trato que eu negociaria pessoalmente. Claramente permite a continuidade da construção de armas", disse Kerry. "Mas o mundo perfeito não está em nossas mãos", acrescentou. Biden, democrata e possível candidato à eleição presidencial de 2008, também disse que votará a favor do acordo."Tudo se resume a uma aposta que estamos fazendo de que a Índia considera, tanto quanto nós, que duas nações têm o potencial de serem âncoras para a estabilidade". Oposição Em uma linha mais dura, o senador democrata Paul Sarbanes, disse que a administração republicana estava pedindo ao Congresso que aprove o acordo sem divulgar as salvaguardas. Elas serão dadas pela Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), mas Sarbanes declarou que não sabe se a AIEA deve substituir o Congresso. Em quase três horas de declarações, Rice entrou em conflito com a senadora democrata Barbara Boxer sobre as relações entre Índia e Irã. A secretária de Estado disse que as autoridades indianas asseguraram que a Índia não estava treinando marinheiros e soldados iranianos, mas que os Estados Unidos "deixaram clara sua preocupação sobre seu (Índia) relacionamento com o Irã". Ainda assim Rice afirmou que "os indianos disseram ter contatos militares de pequeno porte com o Irã". Boxer respondeu que o assunto gera preocupação e que as palavras de Rice eram um pouco vagas. Corrida armamentista Durante a audiência, Rice dirigiu-se aos críticos que afirmam que o acordo do presidente Bush, firmado no mês passado com a Índia, pode resultar no crescimento do arsenal nuclear do país e enfraquecer os esforços para impedir a disseminação de armas nucleares. "A cooperação nuclear civil com a Índia não levará a uma corrida armamentista no sul da Ásia", disse ela. A Índia não assinou o Tratado de Não-proliferação Nuclear (TNP) e segundo Rice é improvável que o fará. Mas, para ela, "o acordo traz a Índia para uma rede de não proliferação e fortalece o regime". De acordo com a secretária, o acordo "obviamente merece o apoio do Senado". O pacto, que deve ser aprovado pelo Congresso, estreita as relações com a maior democracia do mundo, mas também derruba mais de três décadas de leis e políticas americanas. Rice também deve discursar diante do Comitê de Relações Internacionais. Sua aparição acontece em um momento de crescimento do desencanto com a política externa americana. A incerteza sobre o curso militar da China, o tumulto incessante no Iraque e a questão nuclear no Irã e Coréia do Norte se colocam como dificuldade para Rice.

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