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É colunista do 'Estadão' e analista de assuntos internacionais. Escreve uma vez por semana.

Opinião|Rigores da boa gestão

Entrada na OCDE implica a aceitação de princípios democráticos e de governança

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Atualização:

O lançamento formal do processo de entrada na Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) representa uma baliza para o Brasil elaborar um projeto de país. A janela se abre num momento de perda de entusiasmo, no mundo, com as aventuras do populismo, embora as manifestações da esquerda no Brasil indiquem que o consenso em torno das boas práticas esteja longe de assegurado.

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Mesmo na confusão mental em que está cronicamente mergulhado, o Brasil conseguiu o reconhecimento da OCDE do cumprimento de 103 dos 251 requisitos para a entrada na organização. E já submeteu outros 50 a averiguação. Os principais desafios remanescentes estão nas áreas tributária e ambiental.

A participação na OCDE implica a aceitação de princípios democráticos e de governança, um conjunto de regras e práticas que criam o ambiente mais propício para os negócios, o desenvolvimento, a prosperidade e a inclusão social. 

O ministro da Economia do Brasil, Paulo Guedes, fala durante entrevista coletiva sobre o convite da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE)ao Brasil e outros cinco países Foto: Sergio Lima/AFP

Compromissos

Essas práticas muitas vezes não caem no gosto dos eleitores. Como diz o economista Otaviano Canuto, a OCDE é uma espécie de grupo de alcoólicos anônimos, no qual os países se reúnem para lembrar e reforçar mutuamente seus compromissos com os rigores da boa gestão, e resistir às tentações dos atalhos populistas.

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A pandemia mostrou ao mundo o quanto essas tentações, que estavam em alta antes do surgimento da covid-19, conduzem a ilusões fugazes e a sofrimentos permanentes. O estudo The Great Reset: Public Opinion, Populism and the Pandemic, de pesquisadores da Universidade de Cambridge, constata essa mudança de humor, com base em pesquisas da plataforma YouGov com 82 mil pessoas em 27 países.

Aprovação

“Em média, os líderes populistas tiveram queda de 10 pontos porcentuais em seus índices de aprovação entre o segundo trimestre de 2020 e o último trimestre de 2021”, observa o estudo. “Ao mesmo tempo, o apoio às principais atitudes populistas – como a crença na ‘vontade do povo’ ou que a sociedade está dividida entre pessoas comuns e uma ‘elite corrupta’ – diminuiu em quase todos os países.”

O levantamento mostra que a resposta desastrosa dos líderes negacionistas causou a valorização da gestão, da técnica e da ciência sobre o improviso, a intuição e o voluntarismo. E cita Jair Bolsonaro entre os líderes que perderam apoio por causa disso.

Pena que, no Brasil, a alternativa que se apresenta, pelo menos no momento, é uma esquerda desatualizada, pronta para retroceder nas poucas reformas e privatizações realizadas, e assim desperdiçar a oportunidade que a OCDE representaria, de deixar para trás debates com os quais os países avançados não perdem mais tempo. 

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* É COLUNISTA DO ESTADÃO E ANALISTA DE ASSUNTOS INTERNACIONAIS

Opinião por Lourival Sant'Anna

É colunista do 'Estadão' e analista de assuntos internacionais

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