Risco da ?ciberjihad? foi exagerado

Governos avaliaram mal terror na rede, diz estudo

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Por Roberto Simon
Atualização:

Seja para assistir a um ataque a "infieis" filmado no Iraque, opinar sobre o último discurso de Bin Laden, financiar grupos ou aprender a fazer explosivos a partir de materiais caseiros, jihadistas ao redor do mundo encontraram na internet um poderoso instrumento. O terror no ciberespaço, porém, está cercado de mitos infundados. Segundo concluiu um estudo do King?s College, de Londres, governos ocidentais superdimensionaram o papel da rede virtual no terrorismo islâmico e acabaram por adotar políticas "simplistas, caras e contraproducentes" no combate à jihad online. A curta história da internet e a tendência de buscar soluções imediatas na luta ao terror explicam parte da má avaliação. "Há pouquíssimas evidências de que a rede tenha determinado decisões e ações de jihadistas", disse ao Estado Tim Stevens, um dos autores do estudo. Em quase todos os últimos atentados, a internet esteve presente em pelo menos uma das etapas de preparação - doutrinamento, recrutamento, coleta de informação e planejamento da ação. "Entretanto, celulares, telefones fixos, sistemas postais e carros também foram fundamentais", explica Stevens. A falta de regulação do ciberespaço e um "pânico moral" da sociedade diante da nova tecnologia teriam levado Estados a limitar o escopo de sua ação, concluiu o estudo. Cerca de 40 países já adotaram medidas técnicas - filtros, bloqueios e censura - para conter jihadistas. "Nas democracias é mais difícil fazer isso", afirmou Stevens. Abertos ou não, "governos desejam uma solução simples e técnica, mas o problema está no mundo real, não no virtual", disse. Na internet, ainda que a sofisticação e o espaço do jihadismo sejam crescentes, a maior parte dos analistas considera que os militantes estão longe de conseguir provocar um "11 de Setembro virtual". ?CENTRO DE MÍDIA? Autoproclamada "a vanguarda islâmica", a Al-Qaeda foi a primeira organização a adotar uma estratégia e entender os potenciais da rede. O foco, porém, foi a comunicação, não os ciberataques. Para isso, o grupo criou o Al-Sahab, espécie de "centro de mídia", que chegou a postar um vídeo a cada três dias no auge da guerra do Iraque. O ideólogo da nova comunicação teria sido Abu Musab al-Zarqawi, líder da Al-Qaeda no Iraque morto pelos EUA em 2006. Preso na Jordânia nos anos 90, ele fizera um boletim que, fora da prisão, era transcrito na internet por membros de seu grupo. Na rede, os textos ganharam o mundo - e ele, a fama. Quando foi ao Iraque combater os EUA, em 2003, o ex-presidiário levou uma nova arma: uma câmera de vídeo, nova etapa na divulgação de suas ações. Mas nem a Al-Qaeda está imune a ciberataques. Recentemente, um de seus portais, o Al-Neda, foi tomado por hackers. Links com títulos islâmicos foram substituídos por material pornográfico - um deles, "Martírio: o caminho para a imortalidade", virou "Lola: faço coisas que sua mulher não faz". Simpatizantes da Al-Qaeda e alguns especialistas têm a mesma suspeita: ciberagressores a serviço de Washington.

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