PUBLICIDADE

Rivais confiam em vitória, mas pleito transcorre em clima de apatia

Cerca de um milhão de eleitores registrados não devem comparecer às urnas.

Por Marcia Carmo
Atualização:

Os dois candidatos que disputam, neste domingo, o segundo turno das eleições presidenciais no Chile se disseram confiantes na vitória após registrarem seus votos nas urnas, mas o pleito ocorre em meio a um clima de apatia. O ex-senador, empresário bilionário e opositor Sebastián Piñera, da Coalición por el Cambio (Frente para a Mudança), disse que mais tarde "haverá uma grande festa" e que "virão tempos melhores para o Chile". O candidato governista, ex-presidente Eduardo Frei (1994-2000) também acredita na conquista da Presidência e disse que será "o sucessor de Michelle Bachelet por vontade popular". Mas se os candidatos esperam uma festa no final do dia, os chilenos não se demonstraram tão animados com relação ao pleito. Os primeiros dados oficiais, ainda fragmentados, indicam que o comparecimento às urnas poderia repetir o registrado no primeiro turno, quando quase um milhão de eleitores não compareceram às urnas - um índice considerado por analistas, já que o voto é obrigatório no país após a inscrição na Justiça Eleitoral. Além das abstenções, 75% dos jovens de 18 a 30 anos não estão inscritos para votar porque não se sentem atraídos pela política. O Chile tem 16 milhões de habitantes e cerca de 12 milhões de eleitores, mas apenas 8 milhões estão inscritos e ainda assim existem abstenções. Em entrevista à BBC Brasil, os analistas Ricardo Israel, da Universidade Autônoma, Marta Lagos, da Equipos Mori, e Guillermo Holzmann, da Universidade do Chile, afirmaram que a ausência nas urnas mostra a "apatia" de muitos chilenos com a política. O pleito transcorre em clima tranqüilo, com registros de incidentes isolados. e foram registrados incidentes isolados. A votação termina às 16horas (horário local, 17h em Brasília) e a expectativa é que os primeiros resultados oficiais sejam divulgados já no inicio da noite. Disputa Se for eleito, Piñera será o primeiro representante da direita (ou centro-direita, como ele se define) a ser eleito presidente desde 1958. Em contrapartida, se Frei sair vitorioso, ele será o quinto presidente consecutivo da frente de centro-esquerda Concertación, que está vinte anos no poder há 20 anos, desde o retorno da democracia. As últimas pesquisas de opinião do instituto Adimark indicaram favoritismo de 5% para Piñera. Já de acordo com o instituto Equipos Mori, haveria empate técnico, com 1,8% de vantagem para o candidato da oposição. Apesar da disputa acirrada, os eleitores argumentam com precisão a escolha dos candidatos. Enquanto Piñera é relacionado por muitos eleitores com a mudança, Frei representaria, para muitos chilenos, uma continuidade do governo de Michelle Bachelet, que conta com alto índice de aprovação. "Nós queremos um país com decisões mais ágeis, melhor administrado, menos burocrático e com nova geração de políticos. Por isso, votei em Piñera. A Concertación já passou", disse o empresário Jorge Blaeassinger, de 63 anos, que votou no bairro Brasil, no centro da cidade. A telefonista Valéria Villalon, de 28 anos, mãe solteira, de duas filhas, afirmou que votou em Frei porque aprova a gestão da presidente Michelle Bachelet. "Como mãe solteira, posso deixar minha filha de um ano numa creche enquanto estou trabalhando. Também tenho direito a dois planos sociais que correspondem a cada filho. Além disso, sei que a direita foi péssima para nosso país. Basta lembrar o que (Augusto) Pinochet fez", disse. Bachelet conta com alto índice de apoio popular (80%). Dados oficiais indicam que, em quatro anos de mandato, a presidente conseguiu triplicar a quantidade de creches na áreas carentes e intensificou a distribuição de planos sociais para os mais pobres, com atenção especifica para as mães solteiras. Médica e socialista, ela passará a faixa presidencial no dia 11 de março ao presidente eleito neste domingo. Mudança O regime de Pinochet durou de 1973 a 1990. A ditadura começou após o bombardeio do Palácio Presidencial, em 1973, quando o presidente socialista Salvador Allende estava no prédio, e durou até a eleição de Patrício Alwin, da Concertación, em 1990. Agora, segundo diferentes analistas, esta frente, cujos principais partidos são a Democracia Cristiana (DC) e o Partido Socialista, deverá se "reinventar", seja qual for o resultado deste domingo. "A Concertación tem o desafio de se refazer e ouvir a mensagem das urnas", disse o analista Ricardo Israel, da Universidade Autônoma. É a primeira vez, desde sua fundação, que a Concertación chega a uma eleição com resultado tão apertado. "O Chile avançou muito com a Concertación. Melhorou muito nas áreas econômica e social. Mas existe ainda, pelo menos uma falha, que é a do sistema eleitoral, herança do regime Pinochet", disse à BBC Brasil o porta-voz da campanha de Frei e senador eleito pela Concertación, Ricardo Lagos Weber. O governo Bachelet mandou um projeto ao Congresso Nacional para modificar as regras atuais e tentar atrair os jovens, ainda pouco interessados nas eleições. A proposta prevê que, ao completarem 18 anos, os jovens estejam automaticamente inscritos para votar, o que não ocorre hoje. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.