Rival acusa Karzai de fraude eleitoral

Comissão confirma denúncias de ex-chanceler; irregularidades ameaçam deslegitimar possível reeleição de líder afegão

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Por Lourival Sant'Anna
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Enquanto se avolumam as evidências de baixo comparecimento e de muitas irregularidades nas eleições presidenciais de quinta-feira no Afeganistão, o ex-chanceler Abdullah Abdullah, principal candidato rival do presidente Hamid Karzai, acusou-o ontem de usar a "máquina do Estado" e roubar a votação por meio de fraudes no sul e leste do país. A acusação foi corroborada pela Comissão de Queixas Eleitorais, que admitiu ontem que as denúncias de fraude são suficientemente abrangentes para mudar o resultado da votação. De acordo com o presidente da comissão, o canadense Grant Kippen, foram recebidas 225 queixas, das quais 35 "são substanciais para o resultado das eleições". A controvérsia indica que Karzai poderá enfrentar uma crise de legitimidade e processos legais se for declarado vencedor. A primeira contagem parcial dos votos deve ser anunciada amanhã. A Comissão de Queixas Eleitorais, patrocinado pela ONU, é composta por três estrangeiros e dois afegãos - diferentemente da Comissão Eleitoral Independente, encarregada da realização das eleições, com membros escolhidos por Karzai. "Não faz a menor diferença se o presidente ou seus partidários ordenaram a fraude", disse Abdullah. "Tudo isso acontece sob sua liderança", continuou o candidato. "Todas as pessoas responsáveis por essa fraude são nomeadas por ele. Tenho certeza de que ele tem todos os relatórios, sabe de tudo isso. Ele tinha de tê-lo impedido." Abdullah repetiu os relatos de que muitos funcionários públicos, incluindo um delegado de polícia, encheram urnas de votos para Karzai em seis distritos das províncias de Kandahar e Ghazni, no sul do país. A última pesquisa , divulgada no dia 14 pelo Instituto Republicano Independente, organização americana apartidária, indicava 44% dos votos para Karzai e 25% para Abdullah. No total, havia 36 candidatos a presidente. Abdullah disse que, se nenhum candidato obtiver mais da metade dos votos, ele proporá uma frente de todos eles contra Karzai no segundo turno, que se deve realizar seis semanas depois do primeiro. O porta-voz da campanha de Karzai, Waheed Omar, disse que as queixas de Abdullah são para "tentar justificar sua derrota". Mas o principal grupo local de observadores eleitorais, a Fundação Eleições Livres e Justas do Afeganistão, também denunciou uma série de irregularidades. "As equipes da Comissão Eleitoral em diferentes áreas não observaram as eleições de forma totalmente imparcial", disse Ahmed Nader Nadery, presidente da Fundação, que tem 6 mil observadores. Ele disse que funcionários da comissão orientaram os eleitores a votar em Karzai, com algumas pessoas chegando às seções com caixas cheias de títulos de eleitores. A missão de monitoramento da União Europeia, composta de 120 integrantes, observou falhas na lista de eleitores e o uso da mídia em favor de Karzai, mas afirmou que a votação foi conduzida de "forma satisfatória". Segundo a missão, as queixas de irregularidades devem ser investigadas pelo órgão competente. O enviado especial do governo americano no Afeganistão, Richard Holbrooke, foi na mesma linha. "Temos eleições questionadas nos Estados Unidos", argumentou ele. "Pode haver alguns questionamentos aqui. Mas não vamos nos precipitar. Os Estados Unidos e a comunidade internacional respeitarão o processo construído pelo próprio Afeganistão."

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