Rival de Blair está ansioso para tirá-lo do seu caminho

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Por Agencia Estado
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É o boato mais persistente da política britânica, aquele que persegue o primeiro-ministro Tony Blair desde que ele assumiu a liderança do Partido Trabalhista, há quase uma década. A fofoca diz o seguinte: durante um jantar privado em um restaurante londrino, em 1994, logo após a morte do então líder do partido John Smith, Blair fez um acordo com Gordon Brown. Brown supostamente teria concordado em sair da corrida à liderança do partido, em troca da promessa de Blair de que, se eleito, deixaria o cargo na metade do mandato, a fim de abrir caminho para seu velho concorrente. Foi um acordo baseado na confiança. Ambos acreditavam que o próximo líder trabalhista traria o partido de volta ao poder após um hiato de 18 anos, e que conseguiria levá-lo à vitória nas eleições não apenas uma vez, mas duas. Eles estavam corretos, e nove anos mais tarde alguns acham que o ambicioso Brown - agora o poderoso secretário do Tesouro - esteja impaciente, preocupado com o cumprimento da promessa do primeiro-ministro. Blair, envaidecido com sua atuação no cenário mundial, parece que não vai deixar o cargo logo. Mas a insatisfação está fervendo nas fileiras do partido e aglutinou-se em torno da oposição à aprovação de Blair para um possível ataque ao Iraque e seu forte apoio ao presidente dos Estados Unidos, George W. Bush. John Rentoul, um biógrafo de Blair e editorialista do jornal The Independent, disse que ser evidente que o relacionamento entre os dois titãs - que são vizinhos, nos nº 10 e 11 da Downing Street - tornou-se extremamente tenso. "Quanto mais tempo passa assim, fica mais difícil para ambos", disse. "A ambição de Brown torna-se cada vez mais um problema." Notícias publicadas pela imprensa nesta semana dão conta de que Brown, um escocês de modos um tanto bruscos, dois anos mais velho que o primeiro-ministro, tem perguntado a Blair quando ele pensa em deixar o cargo. Essas alegações são difíceis de serem comprovadas, mas o escritório de Blair, que normalmente reluta em comentar essas notícias, tentou contestá-las, na quarta-feira. "É um relacionamento importante e forte e continua sendo assim", afirmou o porta-voz oficial do primeiro-ministro, numa conversa com os repórteres, sob a condição de anonimato. "A idéia de que o secretário do Tesouro venha pedindo que o primeiro-ministro saia do cargo é simplesmente falsa." Blair foi mais cuidadoso quando entrevistado no programa "Breakfast with Frost", da emissora BBC, no último final de semana. O apresentador do programa, David Frost, citou um membro não identificado do gabinete, segundo o qual tanto Blair como Brown não estarão mais em seus atuais postos até o final do ano. "Digo a mesma coisa que tenho afirmado todas as vezes em que este assunto é levantado", declarou Blair. "Ou seja, temos um relacionamento muito forte e continua como tal." "Gordon fez um trabalho fantástico na administração da economia", acrescentou. Brown é amplamente respeitado por sua forma de administrar a economia e goza de grande poder por causa do seu severo controle sobre os gastos públicos. Mas logo ele deverá se tornar o secretário do Tesouro de Blair que está há mais tempo no cargo e pode estar se cansando desse trabalho. O secretário apoiou Blair na questão do Iraque, mas parece estar flertando com a frustrada ala esquerda do partido, desafiando o primeiro-ministro em vários temas domésticos carregados de emoção. Muitos membros do Partido Trabalhista acreditam que o secretário do Tesouro seja mais comprometido que o centrista Blair em relação aos princípios de melhorar a educação e a assistência médica e reduzir a pobreza. Recentemente, Brown se opôs a Blair nos planos para aumentar as taxas de matrículas das universidades, preferindo cobrá-las dos estudantes depois de eles se formarem. Ele também não gosta das propostas de Blair para tornar alguns hospitais públicos mais independentes. Anthony Seldon, historiador da Faculdade Brighton, disse ser imporvável que Brown, de 51 anos, se defronte com Blair, de 49, por causa do seu futuro. "Brown está muito frustrado e adoraria tornar-se o líder do partido. Ele diria certas coisas em caráter privado, mas para mim é inconcebível que vá além de um certo ponto", afirmou Seldon. A especulação está sendo alimentada pela frustração com Blair, acrescentou. Muitos membros do partido estão descontentes com a sua posição firme em relação ao Iraque, o modo severo como ele vem lidando com os sindicatos e o fracasso em consertar os problemáticos serviços públicos britânicos, afirmou Seldon. Ele argumentou que no momento não há uma verdadeira ameaça a Blair, mas sublinhou que nenhum líder é invulnerável. "Se a guerra der errado, se houver uma recessão, então certamente Blair será colocado à prova", afirmou Seldon. "Nunca houve um caso de um primeiro-ministro que não tenha sido desafiado. Isso acontece, e quanto mais tempo eles estão no poder, maior o risco."

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