Rodríguez Saá demite presidente do Banco de la Nación

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Por Agencia Estado
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O "argentino" - a nova moeda deste país - ainda não foi lançado oficialmente e já fez sua primeira vítima. David Expósito, presidente do Banco de la Nación, foi a primeira baixa, depois de ter passado toda a quinta-feira declarando a vários meios de comunicação que a emissão da nova moeda teria que ser de 15 bilhões de argentinos. Além disso, comparou o futuro sistema monetário com o cubano e o chinês, onde coexistem várias moedas. Na sexta-feira de manhã, Expósito foi demitido sumariamente pelo presidente Adolfo Rodríguez Saá. A afirmação de Expósito caiu como uma bomba entre as principais lideranças políticas do país, já que grande parte dos economistas sustentam que a emissão de "argentinos" não poderia ultrapassar a faixa entre 3 bilhões a 4 bilhões de argentinos. Caso contrário, alertam, uma enxurrada de cédulas de "argentinos" em todo o país causaria uma inevitável inflação. As declarações de Expósito causaram o repúdio de uma das lideranças do partido do governo, o Partido Justicialista (Peronista), o senador Eduardo Duhalde. Ex-vice-presidente e ex-governador da província de Buenos Aires, Duhalde disparou fortes críticas contra o presidente do Banco de la Nación: "Se eu fosse Rodríguez Saá, Expósito não estaria nem um minuto a mais no governo. O que Expósito disse é um disparate". "A situação não nos permite nenhum tipo de erro. Somos rigorosos com o pessoal daqui de dentro e com os de fora", disse taxativo o secretário-geral da presidência, Luis LusquiÏos comentando o deslize - e a conseqüente demissão - de Expósito, que permaneceu somente 48 horas na presidência do Banco de la Nación. Além do rigor, estava em jogo a credibilidade da nova moeda, que muitos analistas dizem que poderia nascer morta, quando o parto ocorrer, a meados de janeiro. Com esta demissão, afirmam os analistas, Rodríguez Saá mostrou que continua aplicando seu estilo de "cortar cabeças" sem vacilar, que aplicou durante 18 anos no governo da província de San Luis. O economista Martín Redrado, da Fundação Capital, criticou as declarações de Expósito: "Algumas pessoas acreditam que emitir moeda é a solução dos problemas da Argentina, e não percebem que os problemas do país são muito complexos. Perdeu o crédito, o que significa que ninguém nos empresta dinheiro, e isso ocorreu por causa de decisões mal-tomadas e improvisos na política econômica". A posição de não emitir "argentinos" à vontade foi expressa por um grupo de parlamentares ao secretário das Finanças e Fazenda, Rodolfo Frigeri. Em uma reunião com deputados e senadores do peronismo, Frigeri analisou a nova moeda e o Orçamento Nacional. Sintetizando a reunião, o deputado Jorge Remes Lenicov, afirmou: "Não especificamos um valor, mas concordamos que a emissão de argentinos deve ser limitada, de forma a que ela não perca valor". No entanto, extra-oficialmente, os parlamentares presentes comentaram que a quantia estipulada como limite será de US$ 3,5 bilhões, quantidade suficiente para que o governo possa substituir a miríade de bônus provinciais, além do pagamento dos salários dos funcionários públicos e a demanda de dinheiro em espécie. Os parlamentares também acordaram com Frigeri que o Orçamento Nacional para o ano 2002 poderá ser aprovado em meados de janeiro. Segundo o deputado Jorge Matzkin, só depois que a nova moeda esteja implementada e o Orçamento aprovado, é que o governo vai retomar as conversas com o Fundo Monetário Internacional (FMI). O deputado Oscar Lamberto sustentou que "a única forma para que a nova moeda não seja um papel pintado é que o Orçamento Nacional seja equilibrado", disse. O governo Rodríguez Saá deu o primeiro passo na "pesificação" das dívidas em dólares. Este passo foi tomado através do Banco Central da Argentina, que autorizou o pagamento em pesos de dívidas contraídas em dólares. Esta medida será transitória, e somente terá vigência enquanto durar o feriado cambial, cujo fim está previsto para o dia 2 de janeiro. A medida foi tomada tendo em conta a escassez de dólares no mercado. Conjugados, o feriado cambial e o temor à uma desvalorização do peso fizeram a moeda americana desparecer. O problema é que 85% dos argentinos possuem dívidas em dólares, seja em cartões de crédito, hipotecas ou aluguéis. Por este motivo, enquanto o feriado cambial durar - algo que está previsto até o dia 2 de janeiro - os argentinos poderão utilizar os pesos na proporção de um a um com o dólar para pagar suas dívidas dolarizadas. A pergunta feita hoje em Buenos Aires era "esta pesificação não veio para ficar?". A "pesificação" destas dívidas é considerada condição sine qua non para uma desvalorização ordenada do peso. Qualquer desvalorização que não "pesificasse" as dívidas, causaria um colapso na já abalada cadeia de pagamentos da Argentina, ou seja, um mega-default interno. Leia o especial

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