Roubo de órgãos infantis na Inglaterra

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Por Agencia Estado
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Médicos do Hospital Real Infantil Alder Hey de Liverpool, no norte da Inglaterra, removeram corações, cérebros, olhos e cabeças de milhares de crianças mortas sem o consentimentos dos pais, revela um relatório do governo britânico divulgado hoje. Com base no documento, o secretário de Saúde da Grã-Bretanha, Alan Milburn, falou a legisladores na Câmara dos Comuns que o patologista holandês Dick Van Velzen, que foi o responsável pelas autópsias do hospital entre 1988 e 1995, "ordenou sistematicamente a retirada ilegal de cada órgão de cada criança que passara por um exame post mortem". "A dor causada aos pais por esta sucessão terrível de acontecimentos é imperdoável", disse o secretário. Segundo Milburn, o relatório indica que Van Velzen mentiu para os pais das crianças, para médicos e para a diretoria do hospital. O secretário disse também que o patologista roubou históricos médicos, falsificou documentos e encorajou outros profissionais a fazerem o mesmo. O relatório recomenda que Van Velzen tenha a sua licença médica revogada. Ainda de acordo com o relatório, além de mais de 2.000 corações, foram obtidos sem o consentimento dos pais um grande número de cérebros e olhos de fetos, mais de 1.500 fetos e as cabeças e corpos inteiros de várias crianças. Em outro documento levado a público hoje, o Escritório Médico Central da Inglaterra afirma que mais de 100.000 corações, cérebros, pulmões e outros órgãos foram enviados a hospitais e escolas médicas do país, muitos deles sem a autorização da família. Em alguns casos, foram removidos órgãos ilegalmente. Segundo a conclusão deste relatório, os médicos se preocupam mais em adquirir órgãos para pesquisas e aulas do que com o sentimento de pacientes e de suas famílias. O documento diz ainda que ao não assinarem um formulário de consentimento para uma autópsia - que é controlado pelas autoridades - os parentes estavam automaticamente permitindo que os patologistas retirassem os órgãos. O caso do hospital de Liverpool veio à tona durante uma investigação sobre o alto número de mortes cardíacas ocorridas entre crianças em outro hospital britânico, a Enfermaria Real de Bristol. Segundo o testemunho do doutor Robert Anderson, durante décadas nove hospitais britânicos, entre eles o Alder Hey, teriam retido cerca de 8.000 corações infantis para estudos. Alguns pais que afirmam que seus filhos foram enterrados sem corações, pulmões, cérebros, línguas e outras partes do corpo estavam aguardando o relatório sobre o caso de Liverpool para entrar com uma ação judicial contra o hospital. Van Velzen mudou-se de Liverpool para o Canadá em 1995, onde chefiou o departamento de patologia do Hospital Infantil de Halifax até ser demitido em 1998. Em setembro do mesmo ano, a polícia emitiu um mandado de busca contra ele depois que funcionários do hospital descobriram em um depósito oito órgãos infantis. Atualmente, ele está em licença por tempo indeterminado do Hospital Westeinde, de Haia, na Holanda.

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