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Ruas do Chile pegam fogo após a morte de Pinochet

O corpo de Pinochet será cremado e as cinzas serão entregues à família

Por Agencia Estado
Atualização:

As ruas de Santiago e outras cidades do Chile pegaram fogo neste domingo em diversas manifestações, que em alguns casos descambaram apara a violência, após a notícia da morte do ex-ditador Augusto Pinochet. O ex-ditador morreu oito dias após ter sido internado no Hospital Militar de Santiago, depois de sofrer um ataque cardíaco e um edema pulmonar, e o espanto inicial das primeiras notícias sobre o falecimento ainda não havia acabado quando a tranqüilidade do domingo chileno se transformou em efervescência. A imprensa do Chile testemunhava as comemorações dos detratores do ex-ditador, enquanto via seus partidários aos prantos na porta do Hospital Militar. A aversão entre os dois lados ficou evidente e a Polícia teve de trabalhar com perseverança para evitar enfrentamentos diretos, embora grupos de detratores tenham agredido os responsáveis pela ordem, enquanto os partidários de Pinochet atacaram os jornalistas que cobriam o acontecimento. As opiniões dos dois lados serviram para evidenciar que, 16 anos depois de deixar o poder, a figura de Pinochet ainda é um fator de divisão entre os chilenos. "Valentões, torturadores, delatores e pervertidos (...) de todos os ramos militares são os que se despedem de você, rato miserável", gritava na Praça Itália um jovem identificado apenas como Edmundo. "O mundo se alegra diante do desaparecimento desta barata do império", disse o adolescente, enquanto brindava diretamente de uma garrafa de cerveja junto aos amigos. Cerca de dois quilômetros em direção ao leste da capital, outro jovem, que carregava uma enorme foto de Pinochet e uma bandeira do Chile pendurada nos ombros, chorava sem pudor em frente ao hospital. "Estou sofrendo e muito, pela perda do homem mais importante e visionário da história do Chile", disse a uma emissora de TV o adolescente, que só se identificou pelo sobrenome Sanhueza e que certamente nasceu após o fim do regime liderado pelo homem por quem chorava. Na Praça da Cidadania, nas proximidades do Palácio da Moeda, outra mulher, María Martínez, manifestava seu desprezo pelo ex-ditador. "A única honra que ele merece é atirá-lo ao mar!", exclamou a mulher, ao se juntar aos que gritavam palavras de ordem contra Pinochet, sendo um deles um jovem chamado Ignacio, que afirmou estar "feliz e furioso". "Feliz porque o maldito morreu, e furioso porque isso aconteceu sem que a Justiça o julgasse", disse Ignacio. "Os desaparecidos, onde estão? Os seguidores de Pinochet devem responder", acrescentou. "Sua morte não me faz feliz", afirmou Adriana, de aproximadamente 60 anos, trabalhadora social e com uma foto de um detido desaparecido sobre o peito. "A justiça não existiu para este homem, todos os familiares de vítimas pensam o mesmo", acrescentou, enquanto carregava um cartaz com a frase "A morte ganhou da Justiça". Ao chegar da noite, junto às cercas da Escola Militar, Pedro Sánchez disse estar disposto a esperar por toda a noite para ter a oportunidade de oferecer uma última homenagem "ao libertador do Chile". Com seus 35 anos, Pedro diz ter crescido "em um país que progrediu graças ao general, apesar das calúnias e das infâmias dos covardes que o atacam até depois de morto". As maiores manifestações de violência, que deixaram um número indeterminado de presos, foram iniciadas por grupos de encapuzados que levantaram barricadas, incendiaram pelo menos dois automóveis e um ônibus e destruíram vidros, marquises e outros objetos no centro de Santiago e em outras regiões da capital chilena.

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