03 de agosto de 2013 | 02h02
Este é o homem condenado por uma enorme fraude. Num país em que a sonegação é praticada das camadas mais baixas até as mais altas da sociedade, o seu julgamento é ainda mais importante do que as repercussões que terá por todo o sistema político do país. O que essa condenação significará para a coalizão de governo, em que metade dos membros apoiou a recente criação de Berlusconi, o partido Povo da Liberdade?
Apesar de um início nada promissor, reunindo dois partidos em que muitos membros se odiavam e liderado por um político moderado, que era o número 2 na hierarquia do Partido Democrático, de centro-esquerda, esse governo deu sinais de determinação. O premiê Enrico Letta, que comanda a coalizão, pode ser discreto, mas tem a vantagem de ser uma surpresa numa cultura política que tende a privilegiar a ostentação do poder.
Ele declarou que pretende realizar grandes privatizações, reduzir o poder do Senado, atualmente com o mesmo número de membros da Câmara dos Deputados, provocando frequentes obstruções de pauta, e mudar a lei eleitoral que privilegia partidos minúsculos, incentivando divisões nas agremiações maiores.
Para Berlusconi, a sentença não será tão dura. A condenação inicial, de 4 anos de prisão, foi reduzida a um ano por razões técnicas. Apesar de ele ter declarado que está pronto para viver na prisão, é improvável que ouçamos a porta da cela se fechando atrás dele. Criminosos com mais de 70 anos raramente vão para a prisão na Itália, salvo se forem considerados muito perigosos. E, mais importante, o tópico da sentença estabelecendo que Berlusconi não pode participar da vida pública durante 5 anos também será revisto e o prazo deverá ser reduzido. É provável, porém, que a condenação custe sua cadeira no Senado.
Um coringa no jogo político é Matteo Renzi, de 38 anos, prefeito de Florença, que reivindica a liderança do Partido Democrático e apresenta-se como um novo Tony Blair. Ele veio da esquerda para o centro com um misto de liberalismo, patriotismo, juventude e despreza a velha guarda que, segundo ele, deve dar espaço para os italianos entre 20 e 40 anos. Ele não seria totalmente contra o colapso do governo Letta, uma vez que isso lhe permitiria reivindicar a liderança nacional.
E poderá ter sucesso. Berlusconi lançou todos os seus sucessores, exceto sua filha Marina, no esquecimento. Uma disputa entre Renzi e a herdeira de Berlusconi, de 47 anos, mas muito jovem, segundo critérios políticos locais, abriria um novo capítulo na vida política do país.
O que não pode ser evitado é a decisão final do tribunal: Silvio Berlusconi, três vezes premiê da Itália, foi condenado por fraudar o Estado que dirigiu. Não importa o que virá, o fato é que as coisas na Itália já mudaram. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO
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