Ruptura de relações com Cuba divide políticos uruguaios

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Por Agencia Estado
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O rompimento de relações com Cuba aprofundou a divisão política no Uruguai. A esquerda alinhada na coalizão da Frente Ampla cerrou fileiras para denunciar a atitude do presidente Jorge Battle, voltou a lançar mão de velhos chavões como o "imperialismo ianque" e antecipou uma interpelação ao chanceler Didier Opertti no Senado. Por outro lado, os partidos Colorado governista e o Nacional (ou Blanco), que atuam em coalizão, apoiaram, com maior ou menor ênfase, a decisão do governo. O ex-presidente Julio María Sanguinetti disse que a atitude cubana "não deu outra opção" ao governo e o ex-presidente blanco Luis Alberto Lacalle explicou que apoiava a medida "diante do agravo ao presidente da República". Lacalle se referia à onda de insultos proferidos por Fidel Castro contra Battle, como "lambe-botas", "lacaio", "Judas abjeto" e outras. A reação de Fidel se manifestou depois que o Uruguai propôs e obteve a aprovação de uma moção perante a comissão de Direitos Humanos da ONU para que o regime comunista da ilha aceite ser monitorado no que diz respeito a esses direitos humanos. Cuba rejeitou a presença de qualquer monitor desse tipo. Battle considerou que os "insultos não são um assunto que me afete pessoalmente, mas aí há algo essencial, que são as relações entre Estados". Ao mesmo tempo, continua transcorrendo o "prazo razoável" dado pelo governo uruguaio para que o embaixador cubano, José J. Alvarez Portela, se retire do Uruguai. Não se sabe o que pode ser considerado um "prazo razoável" mas, como o diplomata em questão é também representante de Cuba perante a Associação Latino-Americana de Integração (ALADI), abre-se uma série de questões sobre a atitude que o Uruguai poderá adotar se o governo de Havana dilatar o prazo de permanência de Alvarez Portela no país. Uma central operária dominada pela esquerda está colhendo assinaturas em solidariedade a Cuba e antecipou que uma delegação as entregaria em mãos de Fidel Castro em Havana em 1º de maio. O dirigente sindical comunista Juan Castillo disse que a ruptura ocorre "no âmbito dos alinhamentos de política exterior dos EUA". A esquerda sustenta que o governo dos EUA está por trás desta ruptura e o presidente da Frente Ampla, o socialista Tabaré Vásquez, assegurou que "houve uma ação absolutamente preparada, premeditada em busca desta ruptura". No entanto, o ex-presidente da Frente, o general da reserva Líber Seregni, admitiu não ter dúvidas de que "Battle recebeu reiteradas ofensas à sua pessoa".

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