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Rússia acusa envolvimento de líder checheno em violência

Por Agencia Estado
Atualização:

Autoridades russas apresentaram hoje para jornalistas gravações de conversas telefônicas interceptadas que, segundo o Kremlin, provariam que o líder separatista checheno Aslan Maskhadov esteve por trás da tomada de reféns na semana passada num teatro de Moscou - e que ele não pode ser um parceiro confiável em conversações de paz. O porta-voz do Kremlin, Sergei Yastrzhembsky, disse que Maskhadov foi desacreditado, e não resta ninguém com quem Moscou possa negociar a crise na Chechênia. Em um dos telefonemas, em língua chechena, apresentado com uma tradução russa, um homem identificado como o líder dos seqüestradores, Movsar Barayev, diz "Shamil", o que pode significar que o senhor da guerra checheno Shamil Basayev esteve presente nas preparações do assalto. "Shamil estava atuando sob instruções de Aslan", afirma a voz. "Existem outras claras evidências de que o senhor Maskhadov estava plenamente consciente dos acontecimentos e as pessoas no teatro agiram com seu conhecimento", garantiu Yastrzhembsky, apesar de não ter oferecido outras provas do envolvimento de Maskhadov na ação que deixou pelo menos 160 mortos. Moscou tem buscado apagar a distinção feita por governos estrangeiros entre comandantes rebeldes, como Basayev, e aqueles que atuam como representantes políticos, como Maskhadov e seus assessores. Ontem, a Dinamarca deteve o enviado estrangeiro de Maskhadov, Akhmed Zakayev, a pedido de Moscou. "Podemos ver que a imagem de Maskhadov - mesmo aos olhos daqueles que pressionaram Moscou para negociar com ele - foi seriamente comprometida", disse Yastrzhembsky. No começo do mês, entretanto, o Kremlin anunciou que desejava negociar com Maskhadov. Em 9 de outubro, Yastrzhembsky disse, num fórum na Internet, que "ninguém fechou a porta das negociações de paz". Ele apontou combatentes que apóiam Maskhadov - em oposição a "terroristas internacionais", "islâmicos radicais" e "elementos criminosos" - como potenciais parceiros nas negociações. Apenas uma tentativa pública de negociação foi feita pelo Kremlin durante os três anos de guerra. Em novembro de 2001, um enviado do presidente Vladimir Putin, Viktor Kazantsev, reuniu-se com Zakayev, mas as conversações fracassaram porque o Kremlin insistia em discutir apenas procedimentos para o desarmamento dos rebeldes, enquanto os separatistas queriam falar sobre o status da Chechênia. Maskhadov, que foi eleito presidente da Chechênia em 1997, depois que os rebeldes conquistaram, de fato, a independência, numa devastadora guerra de dois anos e meio, tem sido visto como o mais moderado dos líderes rebeldes chechenos. Entretanto, alguns observadores consideram que recentemente ele se tornou mais radical. Em outro telefonema interceptado apresentado na entrevista coletiva, Abu Bakar, anteriormente identificado na mídia como vice de Barayev, afirma que seu bando tinha mais de 100 cúmplices, prontos para promover atentados suicidas na capital russa. Yastrzhembsky disse que a ameaça poderia ser falsa e uma tentativa de amedrontar autoridades, já que os seqüestradores tinham consciência de que suas ligações estavam sendo interceptadas. O porta-voz do Kremlin pediu a colaboração de governos estrangeiros na repressão aos rebeldes. Ele adiantou que Moscou irá pedir ao Catar para extraditar outro destacado representante político checheno, Zelimkhan Yandarbiyev, e criticou a Turquia por permitir coletas de fundos para os rebeldes. Yastrzhembsky também garantiu que os seqüestradores tinham ligações com o Movimento Islâmico do Usbequistão, que Washington considera um grupo terrorista. O procurador de Moscou, Mikhail Avdyukov, anunciou que entre os 41 seqüestradores cujos corpos foram resgatados do local estavam estrangeiros, de ex-repúblicas soviéticas e outros lugares. Ele informou que dois seqüestradores que sobreviveram estão sob custódia. Autoridades afirmam que 117 pessoas, fora os atacantes, morreram vítimas de um gás opiáceo, fentanila, lançado no teatro através do sistema de ventilação antes que forças especiais invadissem o local na madrugada de sábado. Cerca de 184 ex-reféns continuam hospitalizados, oito em condições graves. Enquanto isso, chechenos em Moscou reclamaram que estão sendo perseguidos pela polícia, que faz visitas não anunciadas a suas casas. Elita Usmanova, 33 anos, disse que policiais com fuzis automáticos apareceram em seu apartamento e levaram seus dois filhos adolescentes para a delegacia, onde foram fotografados, tiveram as impressões digitais colhidas; eles foram interrogados por várias horas antes de serem libertados. Também hoje, a polícia anunciou ter prendido há alguns dias Sergei Krym-Gerei, suposto membro da gangue de Basayev.

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