Postura do presidente americano em relação à ilha e derrocada do principal aliado cubano, a Venezuela, abrem espaço para Moscou
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Por Cláudia Trevisan , correspondente e Washington
Atualização:
WASHINGTON - Depois de uma interrupção de mais de duas décadas, a Rússia enviou no mês passado seu primeiro carregamento de petróleo a Cuba neste século, ocupando parte do vácuo deixado pela derrocada da Venezuela. O movimento de reaproximação dos antigos aliados da Guerra Fria poderá ganhar impulso adicional com a mudança de rumo da política dos EUA e a adoção de uma postura hostil a Havana pelo governo Donald Trump.
A ofensiva de Vladimir Putin para ampliar sua influência na ilha caribenha ganhou força em julho de 2014, cinco meses antes de o então presidente dos EUA, Barack Obama, anunciar a retomada de relações diplomáticas com o país. Em visita a Cuba, o líder russo anunciou o perdão de US$ 32 bilhões da dívida do país, o equivalente a 90% de passivos herdados do período soviético.
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Nos meses seguintes, Moscou e Havana restabeleceram programas de cooperação militar e de treinamento de cubanos na Rússia, que iniciou investimentos em infraestrutura na ilha. No fim do ano passado, o Ministério de Defesa russo anunciou que estudava reabrir a base militar que possuía em Cuba até 2002.
Mas não estava claro se Havana tinha disposição de abraçar o projeto. “Não existe o mesmo nível de confiança no governo cubano em relação à Rússia que havia no período soviético”, observou Vladimir Rouvinski, professor da universidade colombiana Icesi, onde se dedica ao estudo das relações entre Moscou e a América Latina.
Segundo ele, os dois países não possuem a mesma afinidade ideológica que exibiam nas três décadas em que os soviéticos sustentaram o regime comunista de Fidel Castro. “Os cubanos não veem a Rússia como um modelo de desenvolvimento que possam adotar. Esse papel hoje é desempenhado pela China.”
Essa resistência pode ser reduzida pela crise na Venezuela e o congelamento da reaproximação com os EUA, avaliou Rouvinski. A estimativa de analistas é que o carregamento de petróleo enviado por Moscou à ilha tenha valor de US$ 150 milhões, cifra que Cuba não teria condições de pagar. Rouvinski vê a entrega como uma aposta estratégica de Moscou.
Hannah Thoburn, especialista em Rússia do Hudson Institute, acredita que o novo cenário poderá acelerar a gradual reaproximação entre Cuba e Rússia. “A instabilidade da política de Washington em relação à ilha abre uma oportunidade para Moscou se redefinir em Cuba diante dos EUA e desempenhar o papel de mocinho.”
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O interesse russo na ilha cresceu ainda mais com o aprofundamento da crise venezuelana, observou Thoburn. Caracas vende petróleo subsidiado a Havana e é a principal fonte de moeda estrangeira da ilha, graças à importação de serviços de médicos cubanos. “Não seria bom para Moscou ver dois de seus aliados na região fracassarem.”
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