Rússia descobre o poder das vaias contra Putin

Partido do premiê russo continua sendo favorito para vencer as eleições parlamentares de hoje e presidenciais de 2012, mas apoio já não é o mesmo

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Por JULIA IOFFE , FOREIGN POLICY e MOSCOU
Atualização:

A uma semana das eleições parlamentares de hoje na Rússia, o primeiro-ministro Vladimir Putin subiu no palanque diante de 11 mil delegados de seu partido, o Rússia Unida. Pronunciou um discurso sobre os longos anos de serviço ao país. Depois, aceitou a indicação para concorrer na eleição presidencial de março - na qual é favorito. Foi uma estranha reedição do congresso do partido, realizado em setembro, no qual ele e o presidente Dmitri Medvedev aceitaram trocar de lugar. "O otimismo não corresponde ao clima de depressão e de ansiedade do país", diz o consultor político Gleb Pavlovski, que ajudou Putin a ganhar a eleição de 2000. Muita coisa mudou desde então. O que antes era uma apatia do público, fermentou rapidamente numa insatisfação que aflora cada vez mais. O mais notável são as vaias. Elas começaram em novembro, com um concerto da banda de rock Mashina Vremeni, na cidade de Kemerovo, na Sibéria. O show ia bem até que alguém anunciou ao microfone que o espetáculo tinha sido patrocinado pelo Rússia Unida. O locutor foi interrompido por uma explosão de vaias.Kemerovo iniciou uma tendência. Semanas depois, numa partida de hóquei em Cheliabinsk, o capitão do time local leu um discurso elogiando o Rússia Unida. A multidão vaiou. O evento mais significativo ocorreu no dia 20, em Moscou, quando Putin assistia à luta entre o russo Fedor Emilianenko e o americano Jeff Monson. Emilianenko ganhou. Putin quis festejar com ele e subiu no ringue. Em seguida, ouviu uma vaia constrangedora de 20 mil pessoas. O episódio foi representativo, porque as artes marciais são um hobby de Putin, um esporte amplamente patrocinado pelo Estado. Seus fãs formam uma legião fiel. Em outras palavras, não eram vaias da elite liberal, mas da própria turma do premiê.

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