Rússia e árabes querem devolver guerra ao Conselho de Segurança

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Por Agencia Estado
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O Ministério de Relações Exteriores da Rússia defendeu o retorno da questão iraquiana ao Conselho de Segurança (CS) da ONU, para que seja feita uma avaliação "legal e política" da operação anglo-americana contra o Iraque. "A Rússia deseja que o conselho adote uma decisão em conformidade com suas atribuições", disse o vice-chanceler Yuri Fedotov. O ministério não deu indicação sobre se pretende apresentar alguma proposta ao CS. O diplomata também enfatizou que os EUA e a Grã-Bretanha têm de assumir a responsabilidade pelas conseqüências humanitárias da guerra. "A Rússia parte do pressuposto de que países que desfecharam uma ação militar contra o Iraque, ignorando o Conselho de Segurança e em violação das normas da lei internacional, devem arcar com com as conseqüências inevitáveis e severas de suas ações", declarou, segundo a agência russa de notícias Interfax. As relações russo-americanas esfriaram por causa da firme oposição da Rússia à resolução, patrocinada pelos EUA e Grã-Bretanha, que tinha a finalidade de endossar o uso da força, e foram novamente abaladas nesta semana com a alegação dos EUA de que uma empresa russa vendeu aos iraquianos equipamentos proibidos pelas sanções impostas pela ONU ao país. Hoje, o presidente americano, George W. Bush, telefonou para o presidente russo, Vladimir Putin, confirmaram a Casa Branca e o Kremlin. Putin enfatizou na conversa as conseqüências humanitárias de uma ação militar e pediu a Bush que evite uma "catástrofe no Iraque", segundo relato de sua assessoria de imprensa. Em declarações na TV, o líder russo exortou ambos os lados a cumprirem as leis internacionais sobre o tratamento dos presos. A Casa Branca garantiu hoje que possui provas de que empresas russas estão vendendo mísseis antitanque, óculos de visão noturna e aparelhos que interferem nos dispositivos americanos de localização por satélite, mas o chanceler russo, Igor Ivanov, refutou a acusação e disse estar disposto a examinar as supostas evidências. "A Rússia respeita rigorosamente todas as suas obrigações e não entregou ao Iraque nenhum equipamento, incluindo de tipo militar, em violação às sanções", afirmou. Uma empresa britânica negou hoje ter vendido explosivos ou qualquer tipo de armas ao Iraque, depois que as forças da coalizão encontraram em Basra, no sul iraquiano, caixas com detonadores de granadas que traziam o nome da companhia Wallop Defense Systems, cuja sede fica em Hampshire, no sul da Inglaterra. A empresa atribuiu o achado a um furto ocorrido no Kuwait há 13 anos. O material foi encontrado perto de outras caixas com mísseis, foguetes e vários tipos de munição. Em Bruxelas, diplomatas da Alemanha e Bélgica assinalaram que a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) poderá reconsiderar seus planos de enviar tropas à Turquia, para proteger esse país de represálias iraquianas, se o governo turco invadir o território do Iraque. Hoje, militares turcos advertiram que se reservam o direito de ingressar na região curda iraquiana. Liga Árabe Reunidos em sessão extraordinária na capital egípcia, os ministros de Relações Exteriores dos 22 países membros da Liga Árabe pediram a convocação urgente do Conselho de Segurança da ONU para que "condene, reitere a ilegitimidade da guerra contra o Iraque e determine seu fim imediato". Na abertura do encontro, presidido pelo secretário-geral da Liga Árabe, Amro Musa, as delegações presentes manifestaram "total solidariedade ao povo iraquiano, injustamente agredido pelos bombardeios anglo-americanos". Reclamando uma intervenção urgente do Conselho de Segurança, o chanceler líbio, Abdesalam Tikri, disse ao fim do encontro que "os países árabes consideram esse conflito iniciado por Estados Unidos e Grã-Bretanha uma agressão ao mundo árabe". Na declaração conjunta, os membros da Liga Árabe manifestam a intenção de pedir uma reunião excepcional da Assembléia-Geral da ONU se falharem os esforços de convocação do Conselho de Segurança. O documento classifica a guerra de "grave precedente, que impedirá a paz na região e em todo o mundo" e define a decisão anglo-americana de atacar o Iraque de "rebelião contra a vontade da maioria dos membros do Conselho de Segurança, que rejeitou a agressão". Durante o encontro, o ministro das Relações Exteriores do Iraque, Nayi Sabri, pediu aos países árabes que não cedam seus territórios aos "agressores". A cúpula começou com algumas horas de atraso porque seus integrantes não chegavam a um acordo sobre uma reivindicação do Kuwait. O chanceler kuwaitiano não compareceu ao encontro, mas enviou mensagem a seus colegas exigindo a inclusão, na redação da declaração conjunta, de uma condenação ao Iraque por disparar mísseis contra o Kuwait. "Disparamos mísseis contra tropas anglo-americanas ali posicionadas para invadir nosso território", explicou Sabri. "Para nós isso é legítimo e justo, mas não somos inimigos do povo kuwaitiano." O chanceler iraquiano repetiu com insistência aos países da Liga Árabe que evitem de todas as maneiras colaborar com as forças invasoras. As monarquias pró-Ocidente do Golfo Pérsico - Kuwait, Arábia Saudita, Catar, Omã e Emirados Árabes Unidos - acolhem em seu território milhares de soldados americanos, britânicos e australianos que estão participando da invasão do Iraque. A implicação direta de alguns desses Estados nas operações militares, caso do Kuwait - base do grosso das tropas americanas - e Catar - sede do comando militar central anglo-americano na região - tem causado indignação popular na maioria dos países árabes. Essas monarquias são acusadas pelo Iraque e pelos que se opõem ao conflito de "trampolim da agressão americana". Veja o especial :

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