Rússia mostra ceticismo sobre anúncio nuclear do Irã

Presidente iraniano comemorou o início da operação de 3 mil centrífugas para enriquecimento de urânio; ONU teme desenvolvimento de bomba atômica no país

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Por Agencia Estado
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A Rússia demonstrou ceticismo sobre o anúncio de que o Irã teria começado a enriquecer urânio em escala industrial, dizendo que ainda deve esperar uma confirmação da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA). O país declarou nesta terça-feira, 10, que não dispõe de dados que confirmem o anúncio. "Por enquanto não temos dados que confirmem que o Irã tenha iniciado o enriquecimento prático de urânio em novas cascatas" de centrífugas interconectadas, disse o chefe da diplomacia russa, Serguei Lavrov. O Irã comemorou na última segunda-feira o início da operação de 3 mil centrífugas de enriquecimento, o que desafiou as exigências da Organização das Nações Unidas para que Teerã interrompesse seu programa nuclear, mesmo sob sanções. A ONU acredita que o processo será utilizado para fins bélicos, contudo, o governo iraniano defende seu desenvolvimento para geração de energia. Os Estados Unidos acusam o Irã de tentar desenvolver armas nucleares. Especialistas americanos afirmam que 3 mil centrífugas são suficientes para produzir material para uma bomba nuclear em até um ano. Relações com a Rússia A Rússia tenta "esclarecer a situação, em particular, por meio de contatos com analistas da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) que continuam trabalhando no Irã", acrescentou. O país é considerado, junto com a China, o grande aliado internacional do Irã na crise nuclear. Para o diplomata Serguei Lavrov, Moscou se negou a confiar na declaração dada por Teerã até que haja provas disso. "Claro, encaramos com toda a seriedade tudo o que ocorre em torno do programa nuclear iraniano, mas queremos nos apoiar nos fatos, e não nos gestos políticos emocionais", afirmou o ministro. Para o chanceler russo, a única iniciativa que pode ajudar a esclarecer a situação é a realização de inspeções da AIEA sem aviso prévio (que a Rússia respalda). Além disso, insistiu em que a postura de Moscou será baseada o tempo todo "em fatos concretos". Além de Lavrov, o porta-voz da Chancelaria russa, Mikhail Kaminin, minimizou a importância da declaração de Ahmadinejad, que foi recebida no mundo como um novo desafio à comunidade internacional. "Não temos informação sobre avanços tecnológicos no programa nuclear iraniano que tenham mudado o caráter dos trabalhos no âmbito do enriquecimento de urânio nos últimos tempos", afirmou Kaminin em comunicado divulgado pela Chancelaria russa. Preocupação O porta-voz assegurou que a Rússia recebeu com "preocupação" o anúncio do Irã, que "de nenhuma forma reflete a disposição de seus dirigentes de fortalecer a cooperação com a AIEA e cumprir as decisões do Conselho de Segurança da ONU, a fim de restabelecer a confiança em seu programa nuclear". Kaminin disse também que é preocupante a ameaça do regime de Teerã de abandonar o Tratado de Não-Proliferação Nuclear. No entanto, reiterou que "na imprensa e nos comentários sobre essa declaração (de Ahmadinejad) e, em geral, em torno do programa atômico do Irã, há muitas emoções e um sensacionalismo que nem sempre se baseia nos fatos". "Moscou segue convencida de que Teerã deve resolver todos os problemas mediante cooperação com a AIEA e a via das negociações", afirmou. O porta-voz lembrou que o grupo de seis mediadores internacionais na crise nuclear do Irã (os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU e a Alemanha - na Presidência rotativa da União Européia) confirmou em 24 de março a disposição de dialogar com Teerã. "Consideramos que este é o único caminho sensato e viável para a solução do problema nuclear do Irã, e a Rússia está disposta a contribuir para que este objetivo seja alcançado", ressaltou. O diretor do Organismo Iraniano de Energia Atômica, Gholam Reza Aghazadeh, disse que o país tem "tudo planejado" para instalar 50 mil centrífugas na usina de enriquecimento de urânio de Natanz. O ministro de Exteriores iraniano, Manouchehr Mottaki, assegurou que a suspensão do enriquecmento de urânio "é inaceitável" para o Irã e instou as potências ocidentais a "aceitar a nova realidade" do desenvolvimento nuclear do país.

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