Rússia propõe federalização da Ucrânia para resolver crise

Após a reunião com Serguei Lavrov, John Kerry anunciou não ter havido avanço diplomático

PUBLICIDADE

Foto do author Redação
Por Redação
Atualização:

Andrei NettoCORRESPONDENTE / PARIS

PUBLICIDADE

A Rússia quer a federalização da Ucrânia como saída para a crise política do país. A proposta foi feita na noite de domingo, 30, em Paris, pelo ministro das Relações Exteriores russo, Sergei Lavrov, ao secretário de Estado americano, John Kerry, que após a reunião anunciou não ter havido avanço diplomático para uma ação “ilegal e ilegítima” da Rússia. Ele se referia à anexação da Península da Crimeia por Moscou.

O encontro de Kerry e Lavrov – acertado na sexta-feira em um telefonema de uma hora entre Barack Obama e Vladimir Putin – começou às 18h30, na sede do Ministério das Relações Exteriores da França. De acordo com a proposta de federalização feita pelo governo de Putin, Kiev concederia autonomia a suas maiores regiões, que se tornariam repúblicas. O país se converteria, então, em uma federação – a exemplo do que acontece com a Rússia.

A solução não agrada o governo interino ucraniano, temeroso de que o Kremlin estimule movimentos independentistas de regiões em que a maioria é de russos étnicos, como Donetsk, Kharkiv ou Odessa. Foi o que aconteceu com a Crimeia, até então única república autônoma da Ucrânia.

“Não vemos outro caminho a seguir além da federalização do Estado ucraniano”, argumentou Lavrov. E seguiu ironizando: “Talvez alguém mais bem informado possa encontrar uma fórmula mágica para um Estado unido, quando Oeste, Leste e Sul celebram festas diferentes, honram heróis diferentes, têm economias completamente diferentes, pensam de forma diferente e suas culturas gravitam em torno de culturas europeias diferentes”.

Para Washington, a solução seria menos radical: a descentralização do governo de Kiev, com aumento da autonomia das regiões, mas sem a divisão do país em repúblicas, nem sua federalização.

"Qualquer progresso real na Ucrânia deve incluir uma retirada das forças russas que estão se aglomerando ao longo das fronteiras com a Ucrânia", disse Kerry.Kerry salientou que a Ucrânia teria de ser incluída na mesa de negociações e que são os cidadãos do país quem devem tomar a decisão sobre a proposta de federalização, sguerida pela Rússia. "Não cabe a nós tomar qualquer decisão ou acordo sobre a federalização. Cabe aos ucranianos", afirmou o secretário de Estado norte-americano.Lavrov negou mais uma vez que as tropas que estão próximas à fronteira com a Ucrânia estejam se preparando para invadir o território do país e afirmou que o Exército russo está no local fazendo apenas exercícios militares. “Não temos absolutamente nenhuma intenção ou interesse de cruzar as fronteiras da Ucrânia”, disse o ministro russo.

Publicidade

Além do encontro entre Kerry e Lavrov, o secretário de Estado americano se reuniu neste domingo com o ministro das Relações Exteriores da França, Laurent Fabius. O ministro russo deve se encontrar na segunda com o colega francês para tratar do mesmo assunto. Os três devem fazer declarações no fim da manhã sobre os resultados das reuniões.

KERRY

O secretário de Estado norte-americano, John Kerry, disse neste domingo que os Estados Unidos e a Rússia concordam sobre a necessidade de uma solução diplomática para a crise no Leste Europeu, mas condenou o acúmulo de tropas russas na fronteira com a Ucrânia.Autoridades norte-americanas são resistentes à mudança de regime político e afirmam que qualquer mudança na estrutura de governo da Ucrânia deve ser discutida internamente. Por sua vez, os ucranianos estão receosos em descentralizar o poder, temendo que as regiões pró-Rússia se aproximem ainda mais do governo de Vladimir Putin e fragmentem o território.Após o encontro, Lavrov disse que a Ucrânia se torne uma federação para permitir mais autonomia para suas regiões e negou que o governo de Vladimir Putin tenha interesse em avançar sobre o território de ex-repúblicas soviéticas. / COM AP e DOW JONES

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.