Rússia realiza votação sob desconfiança de eleitores e oposição perseguida

A principal marca desta disputa foi a impossibilidade de a maioria dos candidatos críticos ao regime de Putin poder concorrer

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Por Redação
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MOSCOU - Após uma campanha marcada por meses de perseguição a apositores do presidente Vladimir Putin, a Rússia começou nesta sexta-feira, 17, (tarde de quinta no Brasil) a votar para as eleições legislativas. A largada para três dias de votação ocorreu no extremo leste russo, onde as primeiras seções eleitorais foram abertas. 

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A principal marca desta disputa foi a impossibilidade de a maioria dos candidatos críticos ao regime de Putin poder concorrer. A repressão à oposição começou em janeiro, com a detenção do opositor Alexei Navalni, preso após voltar ao país depois de ter sido tratado na Alemanha de um envenenamento, do qual o Kremlin é acusado.

Na reta final da campanha, Navalni instou os eleitores a apoiarem os candidatos do Partido Comunista, que costumam ser os representantes opositores mais bem posicionados ante os da Rússia Unida, partido de Putin.

Como na Rússia há 11 fusos horários, as eleições começaram primeiro nas remotas regiões orientais de Kamtchatka e Chukotka, próximas ao Alasca. Foto: EFE/EPA/MAXIM SHIPENKOV

A estratégia pelo "voto inteligente" dos simpatizantes de Navalni adotada por meio de um aplicativo que informa qual candidato deveria ser apoiado, na grande maioria comunistas, para derrotar nomes do Rússia Unida.

A legenda, que controla três quartos do Parlamento em fim de mandato e apoia sem contestar as políticas do Kremlin, soma, segundo pesquisas, menos de 30% dos votos, o que reflete a impopularidade crescente do governo, somada a casos de corrupção e uma diminuição do nível de vida dos russos. Esses são os principais ingredientes da desconfiança dos eleitores no pleito.

“Não espero grande coisa das eleições, mas estou aqui para dar minha opinião”, disse à AFP Alexander Shirokov, de 55 anos, em Vladivostok (leste).

“Eu gostaria que as coisas não piorassem, que algo mudasse para que nossos filhos e netos possam trabalhar”, disse Irina Koshkareva, uma aposentada de 76 anos. 

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A vitória da Rússia Unida parece garantida, embora deva ser considerável a quantidade de voto de protesto. Poucas pessoas, no entanto, mostram-se preparadas para enfrentar um desconhecido “pós-Putin”.

“Temo que se as coisas começarem a mudar”, disse um engenheiro da cidade de Voronezh, Vitaly Tokarenko, “haverá sangue”.

Nesta sexta,Putinparticipouvirtualemnte dereunião da Organização de Cooperação de Xangai (SCO) em Dushanbe, Tajiquistão. Foto: Alexei Druzhinin, Sputnik, Kremlin Pool Photo via AP

Apelo ao 'patriotismo'

Na véspera das eleições, Putin apelou aos cidadãos para que mostrem “patriotismo”, em um vídeo postado na página do Kremlin durante a madrugada de quarta para quinta-feira.

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“Conto com seu senso cidadão de responsabilidade, sensatez e de patriotismo”, acrescentou em um chamado feito em um momento em que se encontra isolado, após a detecção de um foco de dezenas de casos de covid-19 em seu entorno, uma situação que ilustra as dificuldades da Rússia para conter a pandemia.

Seu porta-voz, Dmitri Peskov, disse que é possível que Putin use o sistema de votação eletrônico ao invés de ir às urnas devido à sua quarentena.

Putin votou nesta sexta usando um aplicativo porque está em isolamento desde que teve contato com uma pessoa com covid-19. O presidente pediu que a população saia para votar ou use o aplicativo, mas não deixe de participar da eleição.

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Como na Rússia há 11 fusos horários, as eleições começaram primeiro nas remotas regiões orientais de Kamtchatka e Chukotka, próximas ao Alasca. Na capital, Moscou, a abertura das seções ocorreu às 2h de Brasília.

“Faremos todo o possível para que o processo eleitoral ocorra de forma aberta e transparente”, disse a encarregada da comissão eleitoral em Petropavlovsk-Kamtchatski, Inga Irinina, durante reunião por videoconferência da Comissão Eleitoral Central.

Quase 108 milhões de russos estão registrados para escolher os 450 representantes da Duma, a Câmara Baixa do Parlamento. Os resultados das eleições serão divulgados no domingo à tarde.

Putin, no poder há mais de 20 anos, se envolveu na campanha com o anúncio de uma ajuda financeira excepcional para 42 milhões de aposentados, parcela chave do eleitorado russo.

Antes da eleição, Putin anunciouajuda financeira para 42 milhões de aposentados, parcela chave do eleitorado russo. Foto: REUTERS/Maxim Shemetov

Perseguição 

Desde a prisão de Navalni, em janeiro, seu movimento foi proibido, por ser considerado "extremista" e a maioria de seus aliados tiveram que partir para o exílio, foram detidos ou sua candidatura foi tornada ilegal.

Nesta sexta, o grupo acusou as empresas Google e Apple de ceder às vontades do Kremlin ao suprimir de suas plataformas o aplicativo que ajuda a votar contra o partido do presidente Putin.

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“Hoje (sexta-feira) às 8h, horário russo, Google e Apple suprimiram nosso aplicativo Navalni de suas lojas de aplicativos. Ou seja, cederam à chantagem do Kremlin”, afirmou, no aplicativo de mensagens Telegram, Leonid Volkov, um opositor no exílio e um dos principais colaboradores de Navalni.

O opositor russo Alexei Navalni Foto: Shamil Zhumatov/REUTERS

Correspondentes da agênbcia France-Press asseguram que o app não aparece mais nas lojas virtuais da Apple e Google na Rússia.

“Suprimir o aplicativo de Navalni das plataformas é um vergonhoso ato de censura política”, escreveu no Twitter Ivan Khdanov, diretor do Fundo de Luta Contra a Corrupção, organização fundada por Navalni.

Khdanov também publicou um e-mail, enviado, segundo ele, pela Apple, no qual explica que a supressão atendeu um pedido do organismo de controle russo das telecomunicações Roskomnadzor, que argumenta que seu conteúdo é ilegal no país.

Em resposta, o porta-voz do Kremlin afirmou que as duas empresas apenas seguiram a lei russa. "Este aplicativo é ilegal em nosso país", declarou.

Na quinta-feira, o Comitê de Investigação russo havia informado ter aberto um inquérito sobre onze pessoas, para as quais pedirá prisão, acusadas de incentivar pelo Telegram a realização de "confusões em massa" durante as eleições. /AFP e NYT

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