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Rússia retira técnicos de usina nuclear do Irã

A medida reflete uma crescente e surpreendente escalada entre Teerã e Moscou, o que pode resultar na ampliação das sanções impostas à República Islâmica

Por Agencia Estado
Atualização:

Depois de pressionar o Irã com a ameaça de cancelar o envio de combustível nuclear ao país, a Rússia pediu o retorno de seus técnicos que ajudam na construção do reator de Bushehr, informaram fontes americanas e européias nesta terça-feira, 20. A medida reflete uma crescente e surpreendente escalada entre Teerã e Moscou, o que pode resultar na ampliação das sanções impostas à República Islâmica por sua insistência em manter um programa de enriquecimento de urânio que é alvo de desconfiança entre potências ocidentais. Os Estados Unidos dizem que o investimento iraniano na tecnologia tem como finalidade o desenvolvimento de armamentos nucleares. Segundo as fontes - um diplomata europeu e um membro do governo americano -, um grande número de técnicos, engenheiros e outros especialistas russos que trabalhavam na usina iraniana voltaram para Moscou na semana passada. O motivo, ainda segundo as fontes, foi a falta de avanço nas negociações entre representantes russos e iranianos para resolver pendências financeiras relativas ao reator. De acordo com o funcionário americano, que falou à Associated Press sob condição de anonimato, aproximadamente 2 mil funcionários russos deixaram as instalações, próximas à cidade de Bushehr. Os técnicos trabalham na construção de um reator nuclear que está próximo de ficar pronto. O diplomata europeu, que é credenciado à Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), confirmou a versão. Segundo ele, o grande número de técnicos deixou o Irã depois que as negociações entre o chefe da delegação russa no Conselho de Segurança da ONU, Igor Ivanov, e seu colega iraniano, Ali Hosseini Tash, tiveram que ser abortadas. Um porta-voz da Rosatom, a Agência Federal de Energia Nuclear, confirmou que o número de operários russos na fábrica de Bushehr recentemente diminuiu devido a atraso nos pagamentos pelo governo iraniano. Ele não disse quantos operários deixaram o trabalho. Fator político Embora o motivo declara para a saída dos funcionários sejam as relações financeiras entre Teerã e Moscou, o imbróglio também conta com um forte componente político. Para analistas, a medida pode ser um reflexo das intenções internacionais em persuadir o Irã a cessar suas atividades de enriquecimento de urânio, que pode produzir tanto combustível nuclear como material para mísseis nucleares. Apesar do reator estar 95% completo, a Rússia disse neste mês que futuros avanços atrasariam porque o Irã não faz seu pagamento mensal desde Janeiro. O atraso, argumentam os engenheiros russos, pode causar um dano "irreversível" ao projeto. O Irã, que por sua vez nega ter atrasado os pagamentos, mostrou-se convencido de que a Rússia - que por muito tempo se opôs às pressões do Conselho de Segurança contra Teerã - está agora usando motivações financeiras como pretextos para aumentar a pressão em prol das intenções do Conselho. Ameaças russas Na noite de segunda-feira, uma reportagem do The New York Times revelou que a Rússia disse ao Irã que não entregará combustível para a usina atômica de Bushehr se o governo iraniano continuar com seu programa de enriquecimento de urânio. O ultimato teria sido feito em Moscou, na semana passada, pelo secretário do Conselho Nacional de Segurança russo, Igor Ivanov, a Ali Hosseini Tash, vice-negociador-chefe do Irã para o setor nuclear. O diário cita como fonte autoridades européias, norte-americanas e iranianas não identificadas. Mas Tash, que é também vice-secretário do Supremo Conselho Nacional de Segurança do Irã, negou que a Rússia tivesse feito um ultimato. "Não, eu contesto a veracidade dessa notícia. A situação inversa é que se verificou", disse Tash a uma rádio estatal do Irã na terça-feira. "O senhor Ivanov estava tentando nos convencer de que essas duas questões não têm relação uma com a outra, ou seja, que a questão de Bushehr não tem relação com a questão nuclear". Texto atualizado às 15h32.

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