Rússia rompe trégua; EUA elevam tom e anunciam ajuda à Geórgia

Após fracasso de cessar-fogo, Condoleezza Rice parte para a região; intervenção da Casa Branca irrita o Kremlin

PUBLICIDADE

Por AP e REUTERS E AFP
Atualização:

Tanques e soldados russos continuaram ontem a avançar sobre cidades da Geórgia, violando o cessar-fogo acertado na véspera entre Moscou e Tbilisi. Os relatos do governo georgiano, confirmados por jornalistas e organizações internacionais, levaram os Estados Unidos a intervir mais diretamente no conflito. Entenda a crise entre Rússia e Geórgia O presidente americano, George W. Bush, exigiu ontem que a Rússia cumpra a promessa de suspender operações militares e anunciou que enviará ajuda humanitária por meio de aviões e navios militares à Geórgia, como informa de Washington a correspondente Patrícia Campos Mello. "Os EUA estão do lado do governo eleito democraticamente da Geórgia e insistem que a soberania e a integridade territorial do país devem ser respeitadas", disse Bush, pedindo que os russos respeitem o cessar-fogo. "A Rússia deve manter sua palavra e agir para encerrar a crise." Bush também ameaçou com um boicote contra Moscou em instituições internacionais. "A Rússia tem tentado se integrar nas estruturas diplomáticas, econômicas, políticas e de segurança do século 21 e os EUA têm apoiado esses esforços. Agora, a Rússia está arriscando suas aspirações ao agir na Geórgia de forma inconsistente com essas instituições", disse o presidente americano. ISOLAMENTO Segundo analistas, os EUA e a União Européia (UE) podem tentar isolar a Rússia no G-8, vetar a entrada do país na Organização Mundial de Comércio (OMC) e adiar a conclusão do acordo de parceria e cooperação entre Rússia e UE, além de suspender a concessão de vistos para empresários russos. Mas o Pentágono descartou a possibilidade de qualquer tipo de intervenção militar. Saakashvili havia interpretado a operação americana de ajuda como uma decisão de defender os portos e aeroportos da Geórgia, mas funcionários do Pentágono deixaram claro que esse não era o caso. Reunidos em Bruxelas, os chanceleres dos 27 membros da UE concordaram em enviar observadores para a Ossétia do Sul para supervisionar o cessar-fogo. A decisão deixou claro um racha no bloco. Grã-Bretanha e os países do Leste Europeu são favoráveis a ações mais duras, enquanto França, Itália e Alemanha preferem uma atuação diplomática menos agressiva. RESPOSTA A Rússia não gostou do tom usado pelos americanos. Em Moscou, o chanceler russo, Sergei Lavrov, respondeu ao presidente Bush afirmando que os EUA devem se decidir entre uma parceria com o Kremlin ou com a liderança georgiana, que ele descreveu como um "projeto virtual" da Casa Branca. "Entendemos que a atual liderança da Geórgia é um projeto especial dos EUA. Mas, um dia, os EUA terão de escolher entre apoiar um projeto virtual ou engajar-se em uma parceria real com a Rússia, que requer ação conjunta", afirmou Lavrov. No sinal de apoio mais importante dado por Washington desde o início do conflito entre russos e georgianos pelo controle da província separatista da Ossétia do Sul, Bush disse que enviará a secretária de Estado dos EUA, Condoleezza Rice, à França e à Geórgia para discutir a paz na região. Condoleezza chega hoje a Paris para reunir-se com o presidente francês, Nicolas Sarkozy, antes de seguir para Tbilisi. "Não estamos em 1968 e isso aqui não é a invasão da Checoslováquia, quando a Rússia podia ameaçar seus vizinhos, ocupar a capital, derrubar o governo e não sofrer as conseqüências. As coisas mudaram", disse Condoleezza antes de partir. Segundo o governo da Geórgia, mesmo após o acordo de cessar-fogo, os russos continuaram a bombardear a cidade de Gori e a saquear casas e edifícios públicos em território georgiano. Moscou nega a acusação, mas relatos de jornalistas confirmam que os combates continuam (leia mais na página A13). Testemunhas disseram que o Exército da Rússia estabeleceu dois pontos de controle a poucos quilômetros de Gori, que teria sido ocupada por tanques russos. O governo de Moscou negou, mas imagens de TV mostraram que pelo menos 50 tanques entraram ontem na cidade. Na Abkházia, os rebeldes separatistas teriam fincado uma bandeira às margens do Rio Inguri, também na Geórgia. A Rússia teria se retirado da cidade de Zugdidi, mas os rebeldes abkházios mantiveram o controle da Garganta de Kodori, que estava sob poder de Tbilisi antes do conflito. Rússia e Geórgia divulgaram ontem um balanço das vítimas militares. Moscou diz ter perdido 74 soldados e Tbilisi, 175. RETROSPECTIVA 07/08 - Forças da Geórgia atacam rebeldes separatistas da Ossétia do Sul para tentar retomar o controle do território 08/08 - Rússia envia soldados e tanques à província para tentar expulsar as tropas da Geórgia. Moscou começa a bombardear alvos no país 09/08 - Parlamento da Geórgia aprova decreto presidencial declarando o país em "estado de guerra". Rússia intensifica os bombardeios na região 10/08 - Geórgia pede cessar-fogo, anuncia retirada da Ossétia do Sul e reconhece que os russos controlam a capital da província, Tskhinvali. Rússia mantém as hostilidades, afirmando que Tbilisi não cumpre a promessa de cessar-fogo 11/08 - Geórgia fracassa em nova tentativa de cessar-fogo. País acusa Rússia de lançar ofensiva terrestre contra as cidades de Senaki, Zugdidi, Poti e a estratégica Gori. Rússia mantém ataques aéreos 12/08 - Presidente russo anuncia suspensão das hostilidades. Rússia e Geórgia alcançam novo cessar-fogo por meio da França ONTEM - Rússia rompe o novo cessar-fogo e os EUA saem em defesa de Tbilisi. O presidente George W. Bush anuncia que enviará ajuda humanitária por meio de aviões e navios militares à Geórgia e exige que os russos suspendam suas operações militares no país

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.