Saddam Hussein volta a estar na mira dos "falcões" dos EUA

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Por Agencia Estado
Atualização:

Depois do Afeganistão será a vez do Iraque? Desde o drama nova-iorquino, importantes personagens dos Estados Unidos apontaram o dedo para Saddam Hussein, o chefe desse Iraque que foi vencido pelos americanos há dez anos na Guerra do Golfo. Saddam Hussein foi então vencido, mas não eliminado. O déspota continua dirigindo o Iraque. Nada conseguiu balançar seu regime, nem sequer o abominável "embargo" que os Estados Unidos infligem a seu país, o Iraque, com centenas de milhares de crianças prestes a morrer. Então, dizem alguns americanos: "O que o pai de Bush não conseguiu terminar (aniquilação de Saddam Hussein), o filho Bush poderá realizar, graças à cólera provocada pelos atentados. De uma só vez ficaria livre de dois diabos: Bin Laden no Afeganistão, e Saddam Hussein no Iraque". George W. Bush, curiosamente aderiu ao campo das "pombas" e não seguiu os "falcões". Mas, desde então, duas coisas aconteceram. Em primeiro lugar, os dissabores que a nação mais poderosa do mundo experimenta no momento em que quer acabar com a menor nação do mundo, o Afeganistão. E, em segundo lugar, as cartas cheias de bactérias da doença do antraz. Quem diz "bacilos" pensa logo no Iraque. Lembra que, após a Guerra do Golfo, o Iraque fez tudo o que pôde para evitar as inspeções da ONU em seu programa "de armas biológicas". Um dos inspetores da ONU, Richard Butler, acaba de afirmar, no New York Times, que a doença do antraz vem do Iraque. Ele evoca até mesmo um encontro em Praga, em junho de 2000, entre Mohamed Atta (o chefe dos assassinos-suicidas de Manhattan) e um diplomata iraquiano em Praga. Esse diplomata iraquiano é Ahmed Khalim Ibrahim Samir el-Ani que, aliás, foi expulso de Praga em abril de 2001 "por atividades incompatíveis com sua posição diplomática". De acordo com o serviço de contra-espionagem tcheco, o embaixador iraquiano e Mohamed Atta teriam tido ainda dois ou três encontros, um deles em março de 2001, o último deste ano. Foi então que o iraquiano teria entregue a Atta cepas de bacilos de antraz. Notemos que, antes de seu crime em Nova York, Atta morou durante um tempo em Newark, em New Jersey, ou seja, em uma das regiões de onde saem as cartas carregadas de antraz. Os serviços secretos remontam ao passado e constatam que há contatos entre o regime do partido Baas, de Bagdá, e os islamitas radicais do Al-Qaeda, de Bin Laden, apesar das discordâncias ideológicas entre os dois grupos. Farouk al-Hijazi que, há três anos, foi nomeado embaixador do Iraque em Ancara, teria tido um encontro com Bin Laden poucos anos antes, em 1994, no Sudão. Em 1998, outros contatos foram feitos. Al Hijazi teria ido ao Afeganistão para oferecer a Bin Laden apoio logístico e um refúgio inexpugnável. Bin Laden recusou, temendo se tornar uma marionete de Saddam Hussein. Uns garantem que, em seguida, Bin Laden teria mudado de idéia. O serviço de espionagem do Kuwait afirma que oficiais iraquianos teriam feito estágios nos campos de treinamento de Bin Laden, no Afeganistão, para formar homens especialistas em armas químicas ou bacteriológicas. Interrompamos esse inventário pois, por um lado, é extremamente complicado e, por outro, estamos em regiões sombrias: todas essas afirmações baseiam-se em falatórios, rumores, intoxicações. Estamos diante de um formidável romance popular ou de uma verdade histórica. De qualquer maneira, esses labirintos de boatos são utilizados nos Estados Unidos pelo campo dos intervencionistas, por aqueles que, como o número dois da Defesa, Paul Wolfowitz, ou como Tom Donnely, do centro de pesquisas Project for New American Century, como o ex-chefe da CIA, James Woolsey, ou mesmo o correligionário do candidato democrata Al Gore durante as últimas eleições presidenciais, Joe Lieberman, fazem pressão visando uma ação militar contra Saddam Hussein. No momento, a Casa Branca resiste. Em primeiro lugar, por motivos políticos: a coalizão "anti-Taleban" não iria para o espaço se os americanos atacassem o Iraque? Além disso, diz o especialista militar da Brookings Institution, Tom Donnely: "Se o objetivo é que Saddam Hussein não continue no poder, é preciso preparar uma operação "Tempestade no Deserto II", ou seja, meio milhão de americanos marchando sobre Bagdá, US$ 100 bilhões, 10 mil americanos mortos e o risco de que Saddam utilize armas químicas ou dê armas para Bin Laden..." Leia o especial

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