Saiba como foram os outros casamentos reais

Nos mil anos anteriores ao século 19, o padrão do casamento real foi o mesmo; desde então, a tradição vem se transformando.

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Por Megan Lane
Atualização:

No dia do casamento entre o príncipe William com Kate Middleton, nenhum detalhe da cerimônia deve passar despercebido. Ele deverá vestir um uniforme cravado de medalhas. Ela deverá trazer nas mãos um buquê com ramos de murta retirados do mesmo arbusto de onde saíram os ramos que formaram o buquê da rainha Vitória. Nas ruas, o povo assistirá, aplaudindo, à passagem do casal. Esse é o padrão de casamentos reais celebrados por seus bisavós, avós, tios e por seu pai e sua mãe. Isso porque casamentos mais recentes da realeza britânica, como os de Edward e Sophie, Charles e Camilla, foram bastante modestos: cerimônias íntimas e até festas com buffets onde os convidados fizeram fila para ser servidos. Segundo a historiadora Fiona Mcdonald, autora do livro Royal Weddings: A Very Peculiar History, os casamentos da realeza dos últimos 90 anos marcam uma ruptura com o passado. "Até o século 19, o padrão tinha sido praticamente o mesmo durante os mil anos anteriores. Casamentos reais eram arranjados por razões políticas, dinásticas e imperialistas, e tanto a noiva como o noivo pertenciam à realeza", disse. "Casamentos com plebeus eram excepcionalmente raros. O exemplo mais famoso foi o de Edward IV com Elizabeth Woodville, no século 15." Reis e plebeus Isso foi exatamente o que o príncipe Albert fez, quando se casou, em 1923, na Abadia de Westminster, com Elizabeth Bowes-Lyon, filha de um obscuro aristocrata escocês. Albert, como segundo filho do rei, tinha mais liberdade de escolha do que seu irmão, Edward. Mas Edward abdicou ao trono para ficar com a divorciada americana Wallis Simpson, então Albert tornou-se rei George VI. Elizabeth, sua esposa, tornou-se rainha Elizabeth. A filha do casal, Elizabeth, tornou-se herdeira do trono. Quando a filha do casal, Elizabeth (hoje rainha) tinha 11 anos, cinco possíveis noivos, de quatro famílias estrangeiras, foram considerados como possíveis maridos. Entre eles, o homem por quem ela acabou se apaixonando: o príncipe Philip, da Grécia. Ele renunciou aos seus próprios títulos de forma a se casar com ela. A futura rainha se casou com o Duque de Edimburgo na Abadia de Westminster, em 1947. Milenar William e Kate também vão se tornar marido e mulher na Abadia de Westminster, construída há cerca de mil anos. Mas o local só se tornou palco de casamentos reais em tempos recentes. Até a Primeira Guerra Mundial, reis e rainhas, príncipes e princesas se casavam em capelas particulares ou palácios. Por causa da guerra, no entanto, a realeza britânica tinha interesse em ofuscar sua origem germânica e fortalecer seu vínculo com o povo britânico. O rei George V mudou o nome germânico da família, Saxe-Coburg-Gotha, para Windsor. "Ele também incentivou o uso da Abadia de Westminster para casamentos reais. Era a grande igreja britânica, fundada por um rei e onde reis e rainhas eram tradicionalmente coroados", disse Macdonald, acrescentando que como era maior permitia que mais pessoas fossem convidadas. "Durante o século 20, grandes procissões pelas ruas foram uma característica de quase todos os casamentos reais. Também havia enfeites nas ruas e, às vezes, festas de rua. Estas eram formas muito poderosas de permitir que pessoas comuns participassem". O local da cerimônia, a atmosfera nacional de celebração, tudo isso contribuiu para que o casamento de Elizabeth e Philip viesse a simbolizar o casamento real moderno definitivo. Ela vestiu um vestido decorado com símbolos patrióticos, feitos de seda chinesa - dois anos após a Segunda Guerra, seda de origem italiana ou japonesa estava fora de cogitação Ele vestiu seu uniforme naval com as medalhas que recebeu em serviço Ela colocou seu buquê de flores da estação, com ramos de murta, na Tumba do Soldado Desconhecido, como sua mãe havia feito Eles acenaram para a multidão da varanda do Palácio de Buckingham Depois, o casal comemorou a ocasião com um serviço à francesa, com pratos batizados em sua honra E, pela primeira vez na história, o casamento foi transmitido ao vivo, pelo rádio, para uma audiência internacional O casamento de Elizabeth e Philip também marcou a entrada, pela primeira vez, no interior da Abadia, de câmeras de filmagem. Quem assistiu ao filme, no entanto, viu apenas as costas do casal, parado no altar. Casamentos reais tornaram-se espetáculos públicos na segunda metade do século 19, com o desenvolvimento de tecnologias de comunicação e o advento dos jornais diários. "Uma vez que o telégrafo se tornou confiável, eventos da realeza britânica passaram a ser notícia do outro lado do Atlântico e por todo o Império", disse Macdonald. Em 1923, o Arcebispo de Canterbury vetou a cobertura ao vivo, por rádio, do casamento do príncipe Albert. O príncipe temia que homens ouvissem a transmissão em bares, sem tirar seus chapéus. Um filme silencioso do evento foi exibido em cinemas em todo o mundo. O primeiro casamento real televisado ao vivo foi o da princesa Margaret com o lorde Snowdon, em 1960. O público, no entanto, só assistiu a uma troca de juras em um casamento da realeza britânica 21 anos mais tarde, quando o príncipe Charles se casou com lady Diana Spencer. "Nos casamentos de Edward e Sophie, Charles e Camilla, houve uma mescla de tradições velhas e novas - televisadas, porém mais íntimas", disse Macdonald. Quando William se casar com Kate no final de abril, é pouco provável que o adjetivo "íntimo" seja usado para descrever o evento. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

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