Saída de Donald Rumsfeld era inevitável

Ganhando ou perdendo as eleições, Bush havia decidido que as coisas estavam mal o suficiente para justificar a saída de um dos arquitetos da guerra

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Por Agencia Estado
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A renúncia do secretário de Defesa dos Estados Unidos, Donald Rumsfeld, mostra a desordem no governo Bush em relação à guerra no Iraque. Em uma coletiva de imprensa depois das eleições parlamentares, o presidente George W. Bush deixou claro que havia decidido de antemão sobre a necessidade de uma "nova perspectiva" no Pentágono. Isso significa que, ganhando ou perdendo as eleições, Bush havia decidido que as coisas estavam mal o suficiente para justificar a saída de um dos arquitetos da guerra. Na verdade, quando Bush disse aos repórteres, na semana passada, que Rumsfeld ficaria no governo, ele já havia conversado com o secretário sobre sua saída. Na coletiva de imprensa, Bush disse que, "ganhando ou perdendo", Bob Gates seria o novo nomeado para o cargo. Se Robert Gates, um ex-diretor da CIA, é o tipo de homem capaz de oferecer essa "nova perspectiva", ainda não se sabe. Até agora, ele sempre foi um personagem tradicional. Mas ele parece estar prestes a se tornar um dos depositários das novas esperanças Momento significativo A saída de Rumsfeld é um momento crucial na história do governo Bush e da guerra no Iraque. A sua renúncia é um sinal e uma admissão de que a política americana em relação ao Iraque não funcionou até agora. Além do vice-presidente, Dick Cheney, e do próprio presidente Bush, não havia ninguém que simbolizasse tanto a determinação do governo em manter a guerra contra o terror e se livrar de Saddam Hussein. "Nós sabemos que eles têm armas de destruição em massa", disse ele sobre os iraquianos, em determinada época. "Nós não precisamos de nenhuma discussão sobre isso." A sua rejeição confiante e brusca à discordância era típica. Para alguns, era sinal de arrogância. Ambições Rumsfeld trouxe para o Pentágono a ambição, cultivada durante anos, de agitar um departamento que ele havia comandado quando bem mais jovem, no governo do presidente Gerald Ford. O livro State of Denial, do repórter Bob Woodward, do jornal Washington Post, sobre o governo na guerra, fala sobre a avalanche de memorandos escritos à mão, conhecidos como "flocos de neve", que ele despejava sobre seus subordinados. Rumsfeld estava determinado a quebrar o que ele considerava a velha guarda e assumir o controle da política, que ele pensava estar muito concentrada nas mãos de generais e almirantes. Ele queria um exército mais enxuto e ágil, mais capaz de empreender a guerra contra terroristas internacionais e governos que os apóiam e menos concentrado nos imponentes sistemas de armas que estavam sendo desenvolvidos como se a Guerra Fria ainda não tivesse terminado. Rumsfeld sentia que era o homem certo, no lugar certo, na hora certa. Seu estilo direto, irascível, por vezes até amigável, empolgava muita gente quando tudo ia bem. Sua famosa declaração sobre ?coisas conhecidas conhecidas, coisas conhecidas desconhecidas e coisas desconhecidas desconhecidas?, feita antes da guerra no Iraque, foi vista como um trejeito de "Rummy", como era chamado, em seu estilo mais idiossincrático. No anúncio de sua saída, ao lado do presidente Bush e de seu próprio sucessor, no Salão Oval, Rumsfeld se referiu a "esta guerra pouco familiar e pouco compreendida, a primeira guerra do século 21.... Ela não é bem conhecida, não foi bem compreendida, é complexa para as pessoas compreenderem". Queda A mesma confiança que permitiu que Rumsfeld deixasse sua marca no Pentágono levou a sua queda. Tornou-se excesso de confiança. Ele ignorou alertas de que unidades intensivas e relativamente pequenas poderiam vencer a batalha no Iraque, mas não a guerrilha. Como a maioria dos articuladores de políticas dos Estados Unidos, ele simplesmente não acreditou que os iraquianos poderiam não receber bem os invasores e cuidar da situação eles mesmos a partir de então. Ele não era um homem paciente e, no final, não teve a paciência necessária para uma prolongada guerra contra a insurgência. Tampouco demonstrou a flexibilidade tática necessária para mostrar a Bush que iria obter a vitória que o presidente considera tão necessária. Rumsfeld tinha que sair, qualquer que fosse o resultado das eleições.

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