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Saída de tropas do Brasil deixa empresário sem clientes no Haiti

Frantz Saint Phat aprendeu português com militares brasileiros e prestava serviços para a base

Foto do author Luciana Garbin
Por Luciana Garbin e Porto Príncipe
Atualização:

PORTO PRÍNCIPE - Frantz Saint Phat foge do padrão das estatísticas do Haiti. Formou-se em engenharia civil e está no segundo ano de Direito, quando boa parte da população não tem nem ensino fundamental. Montou uma empresa quando a regra é não acreditar na economia. Quer permanecer no país, enquanto muita gente tenta ir embora.

Hoje com 31 anos, ele foi um dos vários jovens que no início da Missão da ONU para Estabilização do Haiti (Minustah), em 2004, ficavam na entrada da base brasileira gritando “hey, you” para atrair a atenção dos soldados e pedir comida ou serviço. Nascido no nordeste do país, migrou para Porto Príncipe em 2001 em busca de uma vida melhor.

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Quando viu que só ficar chamando soldado não daria certo, tentou vender artesanato para os militares. “Para melhorar os negócios, aprendi português com os próprios soldados”, lembra. Meses depois, conseguiu um emprego no almoxarifado da base. “Vários outros garotos ficavam na cerca comigo. Alguns estão no Brasil.”

Hoje, Frantz é sócio de uma empresa que presta serviço de manutenção de banheiros para a base militar. “Depois que o Brasil sair, vou ter de sobreviver e tentar conseguir novos clientes. Montei um escritório, convidei dominicanos e cubanos e agora somos os primeiros no Haiti a tentar desenvolver o conceito de serviços gerais. Se a pessoa precisa de eletricidade, manutenção, ar-condicionado, é só ligar que a gente manda uma equipe na hora”, explica. Ele pretende abrir um projeto social para ajudar crianças de rua. 

O empresário não descarta a hipótese de entrar na política. “A situação do país está frágil sim, mas a saída da Minustah do Haiti me obrigou a fazer política ativa”, afirma. “É o momento para fazer o que a gente aprendeu, porque não tem para onde correr. Meus parentes e amigos estão nessa terra.” 

Ele lembra que tem muitos amigos que foram embora para o Brasil, como Jean Claude Michel, encontrado pelo Estado em São Paulo. Segundo Frantz, a Minustah não é bem-vista por parte da população porque há a ideia de que o cólera foi trazida pelas tropas – especula-se que o vibrião possa ter sido levado por nepaleses. “Mas falar de brasileiro e de Minustah é diferente e, nesses 13 anos, teve muita gente que conseguiu uma porta de saída na vida por causa da missão. Gente que no início não tinha esperança, mas depois aprendeu bastante. Eu sou um deles.”

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