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Salto à direita faz Sarkozy perder apoio do centro

Na busca pelos eleitores de Marine Le Pen, presidente francês radicaliza discurso e recebe criticas de François Bayrou, que teve 3,2 milhões de votos

Por ANDREI NETTO , CORRESPONDENTE e PARIS
Atualização:

Em campanha pelos 6,4 milhões de votos obtidos pela extrema direita na França no primeiro turno das eleições, o presidente Nicolas Sarkozy pode estar perdendo outro apoio precioso: o do centro. Com um discurso radical que bate forte na imigração e em pilares da União Europeia, como a livre circulação, o chefe de Estado despertou a reprovação do ex-candidato do Movimento Democrático (MoDem), François Bayrou.Para o centrista, que obteve 3,2 milhões de votos, Sarkozy torna legítimo um discurso extremista perigoso e contrário ao gaulismo, a corrente histórica da direita moderada no país. As críticas foram feitas ontem, em seu QG de campanha, à agência France Presse (AFP) e mostram o desconforto de setores da direita e do centro com a opção adotada pelo presidente. Desde o domingo, Sarkozy radicalizou seu discurso em busca dos votos de Marine Le Pen, candidata da Frente Nacional (FN), que conquistou o terceiro lugar nas eleições com 17,9% dos votos, recorde para o partido. A mesma preocupação já vinha sendo expressada por membros da direita moderada da União por um Movimento Popular (UMP), o partido do presidente, receosos dos efeitos que o discurso pode exercer no segundo turno, em 6 de maio, e também nas eleições parlamentares de junho.Na terça-feira, Sarkozy afirmou à imprensa, em Longjumeaux, na região de Paris, que Marine Le Pen era uma candidata em sintonia com os "valores da República", uma avaliação que contraria o consenso de 30 anos de juristas, militantes de direitos humanos e dos dois maiores partidos moderados, a UMP e o PS. "Abordar a questão da imigração validando as teses da Frente Nacional e sustentando que os desequilíbrios das contas sociais são causados pelos imigrantes é negar meio século de políticas sociais na França", criticou Bayrou. "É uma negação do gaulismo, da democracia cristã e dos valores humanistas." Críticas. As declarações de Sarkozy também foram criticadas pela imprensa progressista na França ontem. Insatisfeito com a guinada à extrema direita, o jornal Le Monde publicou editorial intitulado "Sarkozy e a FN: o fim não justifica todos os meios", no qual condenou a estratégia do presidente, classificando-a de "erro moral e político" e de demonstração de impotência. Segundo o jornal, Sarkozy adota a linguagem, a retórica, as ideias e as obsessões do clã Le Pen, atiçando os medos da sociedade francesa em lugar de pacificá-los. "É uma falta moral. Em política, como em outras áreas, o fim não justifica todos os meios. A eleição não legitima todos os cinismos", reprovou o jornal.Com o mesmo tom ácido, o Libération, diário identificado com a esquerda, publicou em sua capa de ontem uma foto de Sarkozy em preto e branco e sua frase: "Le Pen é compatível com a República". Em sua capa de hoje, o jornal traz o presidente de costas, com a questão: "Sarkozy é compatível com a direita?".Defesa. Pressionados pelas críticas, líderes da UMP tentaram amenizar o discurso do presidente. "Não é que a frase seja falsa, é que ela foi totalmente tirada de seu contexto", sustentou o secretário-geral do partido, Jean-François Copé, que classificou as declarações feitas por Sarkozy diante de dezenas de jornalistas como "apócrifas". No final da manhã, o presidente deu entrevista à rádio France Info na qual garantiu não estar de acordo com as ideias da FN e garantindo que o partido radical não terá ministros em seu eventual segundo governo. Enquanto Sarkozy dava explicações sobre sua aproximação com a extrema direita, Hollande concedeu entrevista coletiva em Paris a mais de 200 jornalistas franceses e estrangeiros. "Sarkozy não corre apenas atrás dos eleitores, mas também das teses, das palavras e das frases da Frente Nacional", disse o socialista, saudando a posição de Bayrou."Com essas bases, essas teses, essas confusões, o que seria a presidência da república nos próximos cinco anos? De brutalidade e de divisão?", criticou.

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