O presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, visitou ontem a cidade de Cúcuta, na fronteira com a Venezuela, em meio a uma crise provocada pelo fechamento da passagem entre os dois países ordenado pelo presidente venezuelano, Nicolás Maduro. Santos reuniu-se com famílias colombianas que foram deportadas nos últimos dias do território venezuelano e cruzaram a fronteira pelas águas do Rio Táchira.
“Bem-vindos à Colômbia”, afirmou Santos em discurso aos, agora, desabrigados. “Bem-vindos à sua pátria. Aqui, sim, os queremos. Aqui, sim, os acolhemos. Vocês não são deportados. São colombianos.”
As chanceleres venezuelana e colombiana, Delcy Rodríguez e María Ángela Holguín, reuniram-se ontem em Cartagena, na Colômbia, para debater a situação que teve início com a medida decretada por Maduro, há uma semana. Até o início da noite, as diplomatas não haviam encerrado a reunião.
Na véspera, Santos já havia feito comentários duros sobre a operação venezuelana para identificar e expulsar colombianos sem documentos de imigração. “Invadir domicílios, tirar moradores à força, separar famílias, não deixar que retirem seus poucos bens e marcar suas casas para logo depois demoli-las são procedimentos totalmente inaceitáveis e recordam episódios amargos da humanidade que não podem se repetir”, disse o presidente.
Maduro, por seu lado, assegurou que a operação continuará até que as atividades de contrabando e de supostos grupos armados na fronteira tenham cessado e cobrou do governo colombiano ações mais enérgicas para conter os delitos. O líder venezuelano também acusa o ex-presidente da Colômbia Álvaro Uribe de estar por trás das “ações de paramilitares e do contrabando” na região.
Ontem, o vice-presidente venezuelano, Jorge Arreaza, anunciou a prisão de um suposto líder dos paramilitares colombianos acusados por Caracas de operar na fronteira, um jovem de 19 anos.
Estopim. No dia 19, quatro agentes do Estado venezuelano – incluindo três militares – foram alvo de ataque a tiros, no episódio que motivou o fechamento da fronteira e a declaração de um Estado de emergência em seis cidades da região.
Segundo Caracas, a operação das Forças Armadas da Venezuela detectou e expulsou 3 mil contrabandistas – chamados no país de “bachaqueros” –, desmontou dezenas de “bases” de paramilitares de direita da Colômbia e levou à economia de 1 milhão de litros de gasolina por dia.
Estimativa do governo venezuelano indica que 30% dos produtos subsidiados pelo Estado e destinados ao mercado da Venezuela têm sido desviados para o lado colombiano como produto de contrabando.
A Assembleia Nacional da Venezuela, presidida por Diosdado Cabello, que na véspera realizou uma sessão extraordinária na cidade fronteiriça de San Antonio de Táchira, aprovou a declaração do estado de exceção.
Deputados da maioria chavista fizeram discursos para expressar apoio antecipado a Maduro caso o presidente decida ampliar o estado de exceção para todos os municípios da extensa fronteira.