Sarkozy anuncia volta da França ao comando da Otan

Afastada desde o governo De Gaulle, Paris terá mais voz na aliança; críticos questionam aproximação com EUA

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Por AP E AFP
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O presidente francês, Nicolas Sarkozy, anunciou ontem o retorno da França à instância decisória da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) - o Comando Militar Integrado. A medida deverá render a Paris "mais força e influência" no cenário internacional, prometeu Sarkozy. A França retirou-se em 1966, sob a presidência de Charles De Gaulle, do comando da organização, obrigando a saída de tropas e bases aliadas de seu território. O objetivo de De Gaulle era garantir "autonomia" em relação aos EUA, dentro do contexto de Guerra Fria. Na época, a decisão abalou as relações entre Washington e Paris. Desde então, a França permaneceu membro da Otan, mas sem integrar seu centro estratégico. "Chegou a hora de acabar com essa situação. É este o interesse da França, é este o interesse da Europa", afirmou Sarkozy. Para o presidente, a exclusão francesa impede Paris de "dar sua palavra quando definem operações em que a França participa". "Devemos codirigir, não se submeter." A "independência" francesa não estará ameaçada e Paris manterá controle total sobre seu arsenal nuclear, disse Sarkozy. A ser oficializada na reunião que celebrará os 60 anos da Otan, no dia 3, a volta à instância decisória dará à França dois postos de controle: Norfolk, nos EUA, e Lisboa. "A Otan saúda a decisão", disse James Appathurai, porta-voz da organização. ''PRÓ-EUA, PRÓ-ISRAEL'' Concretamente, a decisão francesa não trará grandes mudanças. Mesmo fora do Comando Militar, a França integrou as principais missões da Otan - como na Bósnia, Kosovo e, atualmente, no Afeganistão -, está entre os cinco principais fornecedores de tropas e é o 4º maior contribuinte de seu orçamento. No entanto, a decisão de Sarkozy, qualificada pelo jornal Le Monde de "clara escolha do campo pró-EUA e pró-Israel", causou polêmica. Não só legendas oposicionistas de esquerda, mas também parte de seu partido, a União por um Movimento Popular (UMP), de centro-direita, manifestaram-se contra a mudança estratégica. "Ela enfraquecerá a diplomacia francesa", disse Jean-Pierre Grand, deputado do UMP. A ministra do Interior, Michèlle Alliot-Marie, também teria discordado da decisão, sem se pronunciar publicamente. Para a líder do Partido Socialista, Martine Aubry, "nada" justifica a volta ao comando da Otan. Segundo pesquisa da revista Paris Match, 58% da população apoia a decisão. Mesmo sem precisar do aval do Legislativo, Sarkozy solicitará um voto de confiança sobre a medida, que deverá ser facilmente conquistado. PARIS E A ALIANÇA ATLÂNTICA 1949 - França é um dos dez países signatários do Tratado de Washington, que instaura a Otan. Artigo 5 determina resposta coletiva em caso de agressão a qualquer um de seus membros 1955 - Sob a liderança da URSS, bloco comunista forma o Pacto de Varsóvia, aliança militar rival à Otan 1952 a 1955 - Grécia, Turquia e Alemanha Ocidental passam a integrar a aliança 1966 - Incomodado com a ?relação especial? entre Londres e Washington e com um suposto ?papel secundário? na Otan, presidente Charles De Gaulle anuncia a saída da França do comando da aliança. Tropas da Otan deixam o país 1982 - Espanha é admitida na aliança com apoio francês 1991 - Dissolução do Pacto de Varsóvia acaba e levanta questões sobre a pertinência da Otan 1993 a 1996 - Com participação francesa, Otan realiza sua primeira operação militar, na ex-Iugoslávia. Bombardeios da aliança aceleram o fim da guerra da Bósnia e a assinatura dos acordos de paz 1997 - República Checa, Hungria e Polônia são convidadas a entrar na Otan 1999 - Aliança bombardeia ex-Iugoslávia em nome da proteção de albaneses de Kosovo 2002 - Otan intervém no Afeganistão e derruba o Taleban 2004 - 7 novos países ex-comunistas integram a aliança 2009 - França anuncia volta ao Comando Militar da Otan

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