
20 de março de 2018 | 05h25
Atualizado 20 de março de 2018 | 16h16
GENEBRA - Nicolas Sarkozy, ex-presidente da França, foi detido na manhã desta terça-feira, 20, sob suspeita de financiamento ilegal de sua campanha eleitoral de 2007.
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A principal acusação é de que parte do dinheiro teria vindo do governo de Muamar Kadafi, ex-ditador da Líbia. A investigação começou em 2013 e envolve dinheiro em espécie que teria sido entregue aos organizadores da campanha.
Seu depoimento foi colhido às 8 horas da manhã (4 horas de Brasília). Até o final da tarde, ele continuava sob detenção na localidade de Nanterre. Depois das 48 horas, ele pode ser levado diante de juízes para ser eventualmente acusado ou simplesmente liberado. A investigação se refere a corrupção ativa e passiva, tráfico de influência, abuso de bens sociais e lavagem de dinheiro.
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Esta é a primeira vez que os investigadores interrogam Sarkozy. Em 2007, ele venceu a eleição, superando a socialista Ségolène Royal. Mas a suspeita também é de que o dinheiro poderia ter servido para o enriquecimento ilícito do ex-presidente e de aliados.
Há dois anos, o suposto intermediário Ziad Takieddine declarou que foi ele quem levou o dinheiro de Trípoli a Paris, entregando-o a Claude Guéant, então ministro do Interior do governo Sarkozy. Segundo ele, o dinheiro chegou até o ex-mandatário, que sempre negou qualquer envolvimento no caso.
O intermediário foi indiciado por cumplicidade em um esquema de corrupção e por ter desviado recursos públicos. Mas, segundo o jornal Le Monde, a informação reforça o que o ex-diretor de inteligência do governo líbio, Abdallah Senoussi, disse sobre a participação de Kadafi na eleição de Sarkozy.
Os pagamentos também aparecem em um caderno mantido pelo ex-ministro do Petróleo da Libia Choukri Ghanem. Ele morreu em 2012 em circunstâncias até hoje não esclarecidas.
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Segundo o jornal francês, a decisão de levar Sarkozy para ser interrogado foi tomada depois que vários ex-membros do governo de Kadafi, presos, apontaram para a mesma direção no que se refere ao financiamento ilegal de campanha.
A Justiça francesa ainda obteve no início do ano documentos que haviam sido confiscados na Suíça, na residência de Alexandre Djouhri, outro intermediário líbio detido no Reino Unido e empresário próximo do ex-presidente.
Preso no dia 7 de janeiro, ele pagou uma fiança de € 1,1 milhão para aguardar seu processo em liberdade. Mas voltou a ser detido em fevereiro e, por conta de problemas de saúde, está em um hospital de Londres.
Um relatório chegou a ser passado pelo Escritório Central de Luta contra a Corrupção para a Justiça, detalhando como o dinheiro ilegal circulava e financiava a campanha eleitoral de Sarkozy.
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Há ainda a suspeita de que Claude Guéant, ex-ministro de Sarkozy, teria comprado um apartamento de luxo na capital francesa graças aos recursos líbios. Ele já foi indiciado por lavagem de dinheiro. Um dos indícios se refere a uma transferência de € 500 mil em março de 2008, vindo de uma sociedade na Malásia. Guéant, porém, insiste que o dinheiro se refere à venda de quadros.
Também nesta terça-feira, o ex-ministro de Sarkozy, Brice Hortefeux, foi levado para depor, mas na condição de testemunha.
O assunto dominou durante todo o dia o debate político na França e na Europa. Guéant garantiu que "jamais viu circular dinheiro" na campanha de 2007. "Jamais vi um centavo de financiamento líbio", disse o ex-ministro para a France Info.
O partido do ex-presidente, Les Républicains, declarou seu "pleno apoio" a Sarkozy. Eles denunciam um "tratamento diferenciado" da Justiça em relação ao seu ex-líder. Para o chefe do partido no Parlamento, Christian Jacob, a detenção é "incompreensível". Ele denunciou a "fúria da Justiça" contra seu aliado.
O senador Ladislas Poniatowski também acusou o presidente Emmanuel Macron de "complô" e de "lançar a máquina do judiciário conta Sarkozy" por conta da "baixa popularidade" que o governo registra.
O primeiro-ministro, Edouard Philippe, evitou fazer comentários, mas admitiu que antes de deixar o partido de Sarkozy, manteve uma relação "difícil" com o ex-presidente. Já o ministro da Agricultura, Stéphane Travert, disse que "a Justiça é livre na França".
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