Sarkozy ignora a rainha Elizabeth

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Por Gilles Lapouge
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Nicolas Sarkozy espera com impaciência o dia 6, aniversário do desembarque dos Aliados na França, em 1944. Anualmente, grandes cerimônias marcam a data. Para este ano, Sarkozy convidou Barack Obama para visitar as praias da Normandia. O líder francês, finalmente, terá a oportunidade que, em vão, tem procurado até agora: posar ao lado do presidente mais poderoso e um dos mais amados do planeta. Mas Sarkozy, na sua embriaguez "obamiana", não convidou para a cerimônia a rainha da Inglaterra. O britânico Daily Mail indicou que o Palácio de Buckingham está aborrecido. "Cólera no palácio", é o título do artigo, que diz que "a rainha está bastante frustrada". Esse "esquecimento", de fato, é fantástico. Se é verdade que os fuzileiros navais libertaram a França dos nazistas, soldados ingleses morreram às dezenas de milhares na Normandia. E, em 1940, a Inglaterra foi a única a resistir à investida de Hitler após a derrota francesa. Além disso, foi Londres que recebeu o De Gaulle e, durante toda a guerra, tornou-se o centro nervoso da Resistência Francesa. E a isso tudo acrescente-se também o heroísmo britânico: a rainha da Inglaterra é o único chefe de Estado vivo que serviu como voluntário - no Serviço Territorial de Auxílio às Mulheres - na 2ª Guerra. Trata-se de um esquecimento? Uma hipótese absurda. Propomos duas explicações. Se Elizabeth II fosse convidada, Sarkozy não estaria sozinho com Obama na foto. Ora, essa foto tem um peso simbólico enorme. O presidente francês está certo de que o Ocidente tem dois chefes de Estado de envergadura: Obama e Sarkozy. Portanto, é o mínimo da gentileza oferecer ao mundo extasiado uma foto representando os dois guias do Ocidente. Bem, essa é a versão narcísica do incidente. Há uma outra. Há três anos, a diplomacia francesa sofreu uma reviravolta. Sarkozy fazia frente comum somente com a Inglaterra. Achava estúpido se unir somente com a Alemanha, como fizeram François Mitterrand e Jacques Chirac. O reequilíbrio era necessário aos olhos de Sarkozy porque ele não suporta a chanceler Angela Merkel e ela o considera um tipo vulgar, pesado. Assim, a França disputava com Berlim e acariciava a Inglaterra. No início de 2009, nova reviravolta. Os ingleses petrificados ouviram Sarkozy falando a um canal de TV : "Francamente, quando vemos a situação da Grã-Bretanha, não a invejamos." E, alguns dias mais tarde, prometeu "não cometer os erros de Gordon Brown". Paralelamente, Sarkozy recebe Merkel, leva-a a uma exposição no Grand Palais e se refere a ela como "querida Angela". Vamos traduzir essas agitações: a diplomacia francesa acaba de rever seus projetos. No centro permanece imutável a América que Sarkozy sempre amou, tanto sob George W. Bush como com Obama. Mas na periferia houve mudanças: a Inglaterra perdeu um lugar e a Alemanha ganhou um. Esperemos que o Ministério Francês das Relações Exteriores não perca o rumo nessas curvas e mudanças de direção. À espera, a rainha da Inglaterra não deve rever agora a sua cara Normandia. * Gilles Lapouge é correspondente em Paris

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