Saúde de ex-presidente era visivelmente frágil, diz médico

Ex-presidente passou por desobstrução da carótida e angioplastia, mas não reduziu o ritmo frenético de trabalho e campanha

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O ritmo frenético de trabalho e a saúde cada vez mais frágil anteciparam a morte do ex-presidente Néstor Kirchner, vítima de um ataque cardíaco aos 60 anos. Mas os indícios de que o líder peronista não estava bem já eram claros, afirma o médico Nelson Castro, autor de Doentes de Poder, livro sobre os problemas de saúde que presidentes argentinos tentaram esconder.Kirchner foi operado de uma obstrução da carótida em fevereiro. Uma semana depois, retomou normalmente a atividade política, contrariando as recomendações de seus médicos. Em setembro, foi submetido a uma angioplastia. Dois dias depois, estava ao lado de sua mulher, Cristina, em um comício.Dois antecessores de Kirchner também tiveram problemas cardíacos. Em 1993, o presidente Carlos Menem (1989-99) foi internado às pressas. Nos primeiros minutos, o governo afirmou a jornalistas que não passava de uma gripe. Mas, dentro do hospital, Menem estava sendo operado para desobstrução da carótida. As incertezas sobre a saúde do presidente derrubaram o mercado. Na época, a Argentina passava por acelerado processo de privatizações. O ministro da Economia Domingo Cavallo teve de aparecer várias vezes na TV para acalmar os ânimos sobre os rumos da economia, caso Menem tivesse de se afastar do poder. Em 2001 foi a vez do presidente Fernando De la Rúa. A obstrução na carótida do presidente ocorreu em meio à grave crise econômica e à fuga de divisas que levaria ao colapso da economia argentina no final daquele ano. O então ministro da Saúde, Héctor Lombardo, médico de De la Rúa, complicou o cenário ao, eufemisticamente, afirmar que o presidente tinha "um pouquinho de arteriosclerose".Em janeiro de 2009, Cristina passou mal e cancelou todas suas atividades durante cinco dias. Na época, o governo argumentou que ela havia sofrido uma "lipotimia" (pré-desmaio), causada por "desidratação". No entanto, as explicações oficiais não convenceram.Castro recorda que em 1974, quando o presidente Juan Domingo Perón estava gravemente doente, quase morrendo, o governo noticiou sua "gripe".

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