Saúde de Sharon gera incerteza política em Israel

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Por Agencia Estado
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A gravidade do estado de saúde de Ariel Sharon, que provavelmente não poderá voltar à vida pública, gera uma grande incerteza na classe política e na opinião pública israelense a menos de três meses das eleições nacionais. A situação também suscita um extraordinário interesse na Autoridade Nacional Palestina (ANP) e no mundo árabe em geral, pois se esperava que, após a retirada israelense de Gaza, Sharon impulsionasse o processo de paz depois desse pleito, para o qual todas as pesquisas previam uma esmagadora vitória do premier. Um dos motivos da incerteza é sobre o futuro do novo partido Kadima (Avante), que Sharon fundou há menos de dois meses para levar adiante seu programa de paz, e outro é quem será o chefe de governo após as eleições parlamentares. Nos partidos da direita ultranacionalista, que viam Sharon como "um traidor" e "inimigo público" por causa da desocupação de Gaza em agosto e setembro, alguns porta-vozes pediam o adiamento das eleições e a criação de um governo de "emergência nacional". Nesse cenário político, poderia ser favorecido o líder do partido Likud e velho rival de Sharon, Benjamin Netanyahu, que hoje se negou a retirar do Gabinete Nacional quatro ministros desse bloco que continuam no governo. O governo de transição presidido por Sharon até as eleições ficou a cargo do vice-primeiro-ministro Ehud Olmert, que assumiu suas funções ontem à noite, pouco após o chefe do governo ser internado no hospital Hadassah. Olmert presidiu hoje pela manhã a primeira reunião e disse que "todos oram pela boa saúde de Ariel Sharon". Sharon, que se desligou do Likud para formar o Kadima, ao qual se associou outro veterano da política israelense, o ex-líder trabalhista Shimon Peres, de 82 anos, ganharia até 42 das 120 cadeiras do Parlamento nas eleições de março, segundo as pesquisas, e continuaria no poder. O vice-primeiro-ministro da ANP, Nabil Shaath, disse hoje aos jornalistas: "Não acho que volte a existir um líder como Sharon entre os israelenses", acrescentando que "Olmert tem idéias muito próximas às de Sharon". O Kadima ficou sem seu líder pois, segundo os especialistas, o estado de saúde de Sharon porá fim à sua carreira política, a menos que aconteça um milagre médico. Ninguém nos meios parlamentares imagina ainda quem será seu sucessor e, em geral, descarta-se a possibilidade de que seja Olmert. O presidente da ANP, Mahmoud Abbas, interessou-se pela saúde do premier de Israel chamando o deputado e médico árabe Ahmed Tibi, ex-conselheiro de Yasser Arafat para assuntos israelenses, enquanto porta-vozes do movimento islâmico Hamas, em Gaza, consideraram que o desaparecimento de Sharon da vida política "será muito melhor". O líder do Partido Trabalhista israelense, Amir Peretz, ordenou hoje a suspensão da campanha para as eleições legislativas de 28 de março até que acabe a incerteza. Olmert e seus colegas no Gabinete Nacional destacaram que "Israel é um país forte e democrático, e seguirá seu caminho". Na Bolsa de valores de Tel Aviv, que operava há mais de um ano num clima de altas constantes e tranqüilidade, foram registradas baixas nas ações e o valor do dólar aumentou 1,5% na paridade com a moeda local, o shekel.

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