Schroeder quer fazer as pazes com Bush

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Por Agencia Estado
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Reeleito para o cargo de chanceler da Alemanha há 15 dias, Gerhard Schroeder, reúne-se nesta quarta-feira com o presidente francês Jacques Chirac em um jantar no Palácio do Eliseu. O assunto principal do encontro é o Iraque, ou seja, indiretamente, as relações da Alemanha com os Estados Unidos. E há urgência. Uma situação sem precedentes afeta as relações entre Berlim e Washington. A Casa Branca colocou Schroeder "de castigo, virado para a parede", em situação difícil. Contrariando a praxe normal, George W. Bush não telefonou a Schroeder para felicitá-lo por sua reeleição no dia 22 de setembro. Bush parece estar realmente zangado com o líder alemão. Naturalmente, o Departamento de Estado norte-americano procura atenuar o incidente, com um comentário bem seco: "Somos dois grandes Estados." E não se diz mais nada. Conhecemos o motivo dessa briga: durante sua recente campanha eleitoral, Schroeder dissociou-se rudemente de Washington. Como percebia muito bem que os alemães não compreendem a obsessão "antiiraquiana" de Bush, Schroeder aproveitou a ocasião. "Não faremos a guerra no Iraque", afirmou. E, a partir de então, seus discursos derivaram para um "antiamericanismo" - ou "anti-Bushismo" - cada vez mais virulento. Afagando o brio nacional dos alemães, ele insistiu em que a política externa se define em Berlim e em nenhum outro lugar. "Nós não vamos ficar em posição de sentido diante de George W. Bush", repetiu ele. Este nacionalismo encantou a Alemanha, humilhada por estar sendo considerada sempre como um simples satélite de seus "aliados" 50 anos depois do fim da Segunda Guerra Mundial. E Schroeder foi reeleito. Mas agora é preciso "juntar" os pedaços", pois é evidente que a Alemanha não quer (e nem pode) romper com os norte-americanos. Há 15 dias, Berlim se dedica a essa tarefa. Para isso, Schroeder lança mão de todos os meios disponíveis. Através de seu ministro das Relações Exteriores, Joschka Fisher, ele fez saber que os blindados alemães, que se encontram no Kuwait, não seriam de lá retirados se os Estados Unidos atacassem o Iraque. Todos estes sorrisos não conseguiram até agora "degelar" a Casa Branca. Quando os jornalistas perguntaram ao porta-voz de Bush quando Gehard Schroeder viria visitar o presidente norte-americano, a resposta foi glacial: "Muita gente quer ver o presidente dos Estados Unidos, que tem uma agenda de encontros superlotada". O jantar de Schroeder com Jacques Chirac em Paris, na noite desta quarta, deve ser analisado sob esta luz. Com certeza, o desentendimento entre Bush e Schroeder não será eterno. Mas ninguém (sobretudo os alemães) tem interesse em ver essa rusga se prolongar indefinidamente. Portanto, Schroeder procura um "intérprete", está em busca dos "bons ofícios" de um intermediário. Tony Blair não é qualificado para isso. Ele se aproximou demais de George W. Bush para poder desempenhatr o papel de intermediário. E, na questão do Iraque, Blair, fanaticamente partidário da guerra, não pode absolutamente aprovar a "recusa" dos alemães. Chirac é bem diferente. A condenação da intervenção no Iraque, por parte da França, é tão contundente quanto a de Schroeder, mas Chirac manobrou com mais fineza. Soube evitar que os norte-americanos ficassem melindrados. Paris constitui portanto uma espécie de passarela possível entre Berlim e Washington. Chirac está encantado. Por acaso, a França - que está a par da falta de habilidade de uns e de outros - foi erigida em árbitro entre dois mastodontes, que são os Estados Unidos e a Alemanha. Além disso, existe a esperança de que um processo mais ambicioso possa estar sendo posto em ação nessa oportunidade. Nos últimos anos, o chamado "motor franco-alemão" teve grandes falhas. Nunca houve grande sintonia entre Jospin e Schroeder (ambos socialistas). Hoje, tanto alemães quanto franceses estariam bem à vontade para colocar em ação esse famoso "motor franco-alemão". E porque não aproveitar este momento para lançar as bases de uma "diplomacia européia", que faz uma falta cada vez mais cruel?

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