Os detetives da Scotland Yard que investigam o escândalo em torno da suposta venda de títulos honorários pelo Partido Trabalhista britânico entraram nos computadores do número 10 de Downing Street, onde fica o escritório do premier britânico, em busca de informações comprometedoras. É o que revela a edição de hoje do jornal The Sunday Telegraph, que afirma que a Polícia utilizou os serviços de especialistas em informática para obter informações confidenciais sobre a suposta oferta de títulos de "lorde" a multimilionários benfeitores em troca de empréstimos não declarados e doações aos trabalhistas. Os investigadores teriam entrado em contato inclusive com os provedores de internet do escritório do primeiro-ministro britânico, Tony Blair, para obter os e-mails aos quais não tinham tido acesso até então apesar dos seus reiterados requerimentos a Downing Street. A Scotland Yard tomou essas medidas extremas ao suspeitar que os colaboradores do primeiro-ministro estavam escondendo informações que poderiam ser determinantes para a investigação em andamento, que ameaça se transformar no maior escândalo do mandato de Tony Blair. Insatisfeitos com a documentação disponibilizada pelos colaboradores do líder trabalhista, os investigadores decidiram obter por conta própria as provas que precisam. O chefe da Polícia Metropolitana, John Yates, que dirige a investigação, teria dado autorização aos seus funcionários para utilizar todos os meios legais e averiguar se alguma informação estaria sendo encoberta. Segundo especialistas legais, para poder chegar aos computadores é preciso uma autorização de alto nível, similar a uma ordem judicial. A Polícia apreendeu os computadores de vários funcionários do Partido Trabalhista como parte de sua investigação, e utilizou especialistas em informática para acessar os arquivos eletrônicos de algumas pessoas detidas como o principal arrecadador do partido, lorde Michael Levy. Segundo o "The Daily Telegraph", os investigadores ficaram irritados devido às supostas tentativas do Governo de colocar obstáculos à investigação em andamento. A manipulação dos computadores do escritório do primeiro-ministro pelos especialistas do serviço da Scotland Yard aconteceu antes da detenção de Ruth Turner, na sexta-feira, colaboradora próxima de Tony Blair, sob suspeitas de "obstrução à Justiça". Blair saiu em defesa de sua colaboradora, qualificando-a de "pessoa da máxima integridade pela qual sinto grande respeito e em quem tenho total confiança". A detenção de Turner, de 36 anos, diretora de relações de Downing Street, já é a quarta efetuada pela Scotland Yard nos dez meses de investigação do escândalo. O primeiro-ministro já viu a Polícia deter e interrogar algumas das pessoas de seu círculo de amigos, como o citado lorde Levy, o ex-assessor Des Smith e o milionário do setor da biotecnologia Christopher Evans. Noventa pessoas já foram interrogadas pela Scotland Yard, mas, por enquanto, nenhuma delas foi processada.