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'Se Israel abandonar as armas, deixa de existir'

De saída após 3 anos no País, diplomata israelense defende bombardeios a Gaza e acredita que crise com Brasil será breve

Por Lisandra Paraguassu
Atualização:
Saída. Embaixador de Israel no Brasil, Rafael Eldad Foto: Wilson Pedrosa/Estadão

BRASÍLIA - O embaixador de Israel, Rafael Eldad, deixa hoje o cargo que ocupou durante três anos em meio a uma crise diplomática entre o Brasil e seu país. A convocação do embaixador brasileiro em Tel-Aviv, Henrique Pinto Sardinha, a condenação aos ataques à Faixa de Gaza e a resposta do porta-voz da chancelaria israelense, Yigal Palmor, que chamou o Brasil de "anão diplomático", prejudicaram as relações bilaterais. Sem disfarçar o constrangimento, Eldad reconhece que o momento não é bom, mas tem esperanças de dias melhores. A seguir, os principais trechos da entrevista.

Qual sua avaliação dos três anos que o sr. esteve no País?

Este é um momento complicado, mas é uma exceção. Fora os últimos dias de tensão, foram três anos de muito diálogo, cooperação e fortalecimento das relações. Espero que, com o cessar-fogo, em pouco tempo possamos retomar a relação como sempre foi, de amizade e cooperação.

O sr. chegou a ser chamado pelo Itamaraty para consultas?

Temos diálogo constante e aberto sempre. Esse chamamento é natural e normal. Falamos em tempos de tensão e de cooperação. O diálogo sempre se manteve. Na semana passada, o Itamaraty ofereceu um almoço muito amistoso para a minha despedida. O contato e o diálogo nunca foram interrompidos.

Israel foi criticado por outros países além do Brasil, inclusive aliados como França e EUA. Os ataques que mataram milhares de civis não prejudicam as relações internacionais do país?

Israel está ameaçado na sua existência. Isso é uma coisa básica, mas que, infelizmente, não é compreendida. O Hamas pede abertamente a destruição de Israel. Pede abertamente que se mate qualquer judeu, qualquer israelense. São coisas que nenhum outro país, nenhum outro povo, tem de enfrentar. Se os palestinos abandonarem as armas, teremos paz. Mas, se Israel abandonar as armas, deixa de existir. Isso é elementar, mas ninguém vê, lamentavelmente.

Mas Israel bombardeou quatro escolas da ONU e matou muito civis. Não está havendo um exagero por parte do país?

Também não se vê todas as mentiras do Hamas. Por exemplo, se sabe apenas das crianças que morrem em Gaza. Parece que em Gaza só moram crianças e mulheres, não existem outras pessoas. Nunca se menciona a morte de algum combatente do Hamas. Se vivem apenas crianças e mulheres, quem está lançando mais de 3,5 mil foguetes contra Israel? Quem cavou túneis para matar israelenses? Sabemos que muitas das fotos são falsificadas. São da Síria, do Iraque, do Afeganistão, mostradas como se fossem em Gaza. Na guerra midiática, o Hamas não tem limites, ética e usa qualquer mentira. Lamentavelmente, muitos meios de comunicação não veem isso.

Israel está perdendo a guerra midiática?

Sim, porque Israel trabalha apenas com fatos verdadeiros. Nunca publicamos fotos de mortos israelenses, porque são vidas humanas. Eles, ao contrário, usam mulheres e crianças como escudos humanos. Como bem disse o primeiro-ministro, Binyamin Netanyahu, nós usamos armas para proteger pessoas, enquanto eles usam pessoas para proteger as armas.

No momento em que Israel está sendo tão criticado, as declarações do porta-voz da chancelaria, Yigal Palmor, contra o Brasil, não foram um passo errado?

O comunicado oficial foi outro. Com essas declarações, o porta-voz demonstrou a decepção de Israel pela convocação do embaixador. Claro que não foi a melhor maneira de se expressar, mas isso está no passado. Temos de focar no futuro. Estou seguro de que essa amizade construída durante décadas seguirá crescendo.

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Hoje é o seu último dia no Brasil. Seu sucessor já foi nomeado?

Sim, há seis meses. Ele é Reda Mansour. Deve chegar até o fim de agosto. É um embaixador de carreira com muita experiência. Uma coisa interessante: ele não é judeu, é druso, de uma minoria de Israel, o que mostra a abertura e a pluralidade da sociedade israelense, em que todos participam de uma maneira democrática e igual. Acusam Israel de discriminação e de racismo. Temos em Israel 1,5 milhão de palestinos israelenses que têm representantes no Parlamento e nas universidades. Em Gaza, nenhum judeu pode viver. Então, quem é racista? Quem discrimina? São coisas que a opinião pública desconhece.

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