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Segundo relatório da ONG Oxfam, suspeitos de escândalo sexual no Haiti ameaçaram testemunhas

Relatório interno de 2011 sobre a missão de ajuda no país afirma que ex-diretor Roland Van Hauwermeiren admitiu que pagou por relações sexuais com prostitutas em locais financiados pela organização

Atualização:

LONDRES - A ONG britânica Oxfam divulgou nesta segunda-feira, 19, um relatório interno de 2011 sobre a missão de ajuda no Haiti, que detalha como um de seus diretores pagou prostitutas e alguns de seus funcionários sofreram ameaças.

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Oxfam enfrenta novas acusações de comportamento sexual inadequado de seus funcionários no Haiti. Foto: Nick Ansell/PA via AP

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De acordo com o documento de 11 páginas, divulgado em uma versão parcialmente censurada, o ex-diretor da Oxfam no Haiti, o belga Roland Van Hauwermeiren, admitiu que pagou por relações sexuais com prostitutas em locais financiados pela organização. A ONG estava presente no país desde o terremoto de 2010, que deixou mais de 200 mil mortos.

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"É algo totalmente horrível", declarou a primeira-ministra britânica, Theresa May. "Estas condutas estão muito abaixo dos padrões que podemos esperar das organizações beneficentes e ONGs com as quais trabalhamos", acrescentou.

O relatório, elaborado em 2011 após uma investigação interna, não descarta a possibilidade de que alguma prostituta fosse menor de idade. A haitiana Mikelange Gabou disse ao jornal The Times que teve uma relação com Van Hauwermeiren quando ela tinha 16 anos e ele, 61.

De acordo com o depoimento dela, o belga entregou dinheiro e fraldas para seu bebê. Algumas vezes, convidava para sua casa mulheres que procuravam trabalho, as quais dava dinheiro. "Me ajudava, mas eram muitas garotas (...). Sempre havia mulheres do local, haitianas. As mulheres eram sua distração", afirmou Mikelange.

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Na semana passada, Van Hauwermeiren negou ter organizado orgias com jovens prostitutas, mas admitiu em uma carta publicada pela imprensa belga que teve relações sexuais com uma "mulher respeitável e madura", sem entregar dinheiro.

De acordo com o documento, sete funcionários da Oxfam no Haiti deixaram a ONG após a investigação interna. Alguns foram acusados, além de pagar prostitutas, de perseguir e intimidar outros membros da organização. "O incidente fez com que três suspeitos ameaçassem e intimidassem fisicamente uma das testemunhas mencionadas no relatório", afirma o texto.

Quatro deles foram demitidos por "falhas graves" e três pediram demissão, entre eles Van Hauwermeiren, a quem a Oxfam optou na época por oferecer uma "saída digna, desde que cooperasse plenamente com o restante da investigação".

Transparência

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A Oxfam afirmou que decidiu publicar o relatório "para ser o mais transparente possível sobre as decisões que foram tomadas durante a investigação". A ONG também comunicará o nome das pessoas envolvidas às autoridades do Haiti, que realizam a própria investigação.

Na sexta-feira, a Oxfam revelou um plano de ação para impedir novos casos similares e tentar responder à polêmica mundial, que levou parceiros e personalidades que apoiavam a ONG a abandoná-la.

A Oxfam, que no ano fiscal 2016-2017 recebeu quase € 36 milhões do governo britânico, aceitou não pedir mais recursos públicos até cumprir as normas de proteção de pessoas, indicaram as autoridades.

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No relatório sobre o Haiti, a Oxfam concluiu que era necessário adotar "mecanismos melhores" para informar as demais agências sobre o comportamento problemático dos funcionários.

Depois de deixar a Oxfam, Roland van Hauwermeiren trabalhou para a organização francesa Ação contra a Fome em Bangladesh, que lamentou não ter sido avisada sobre o comportamento do belga no Haiti.

Após as primeiras informações sobre os abusos, também em países como Sudão do Sul e Libéria, o diretor geral da Oxfam no Reino Unido, Mark Goldring, afirmou que o escândalo era "desproporcional". Contudo, no domingo, ele admitiu que a organização deveria ter sido mais transparente.

O caso também provocou a revelação de comportamentos similares em outras ONGs como a britânica Save The Children, acusada de ter permitido a saída sem punição de Brendan Cox, marido da deputada assassinada Jo Cox, que teve um comportamento inapropriado com as companheiras de trabalho.

Cox pediu desculpas no fim de semana e abandonou os cargos que ocupava em duas associações criadas em homenagem à sua mulher. / AFP e EFE

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